terça-feira, 16 de dezembro de 2008

O Eterno, o desejo e o Sangue



Por estes dias terminei de ler dois livros maravilhosos e muito opostos, apesar de similares.....tratam-se de “A eternidade e o desejo", da portuguesa, Inês Pedrosa e de “Sem sangue” do italiano Alessandro Baricco. O primeiro trata da história de uma portuguesa que volta à Bahia de todos os Santos , onde, no passado viveu uma história de amor, que acabou em tragédia, deixando-a cega; ela volta à Salvador, às Igrejas católicas, ela volta ao seu passado, e o livro é o seu relato da experiência de uma mulher que agora vive pelos seus outros sentidos;ela volta entremeando-se pelos Sermões de Padre Antônio Vieira. O livro é de um luxo só. Inês escreve fluindo, seu português é intrincado porem solúvel. Nos embevecemos nesta história que purga a dor e o sofrimento do passado de Clara ( esta personagem cega) ,ao mesmo tempo que nos apresenta uma história de amor, agora no presente desta mesma personagem. Inês nos apresenta o DESEJO como algo diretamente ligado à vivência da busca daquilo que torna-se eterno em nossa mente assim como em nosso corpo; vivências que nos marcam para sempre, deixando cicatrizes, rugas em nossas histórias.

No outro livro, é o reencontro da menina que teve sua família assassinada com seu “carrasco”. Anos depois. O livro é curto, tem 80 páginas. Suguei-o numa tacada só, tem um rítmo inebriante, como o outro, porém este é frenético, cheio de dores ,de lembranças da guerra e sem poesia nenhuma. O de Ines, é tão viciante quanto ,porém situado num cenário exótico e sensual. Um nos fala do amor e suas sinestesias num contexto “caliente” dos trópicos e o outro da purgação da dor pelo enamoramento através do carrasco.

Um trecho do de Inês: “Os teus filmes congelam a vida, tanto como as minhas palavras. Eu não posso ver os teus filmes, e tu amas-me em silêncio. Assim duraremos..... No Brasil, território de afetos exacerbados, o que primeiro se aprende é o desprendimento , ou o dom de amar esquecidamente.....quantas pessoas pelas quais me apaixonei consegui amar?”

Agora, um trecho do livro de Baricco: “por mais compreensível que seja a vida, provavelmente nós a cruzamos com o único desejo de retornar ao inferno que nos gerou, e de viver ali, ao lado de quem, uma vez, nos salvou, daquele inferno. Tentou pensar de onde vinha aquela absurda fidelidade ao horror, mas descobriu não ter resposta. Compreendia somente que nada pede mais forte do que o instinto de voltar para lá onde nos despedaçaram, e de repetir aquele instante por anos. Pensando apenas que quem nos salvou uma vez pode depois nos salvar para sempre. Num longo inferno idêntico áquele de onde viemos. Mas inesperadamente clemente. E sem sangue.”

Foi ai que encontrei o ponto de convergência de ambos os livros: ambos falam da dor extrema da perda de seres amados e a volta que sevemos fazer à estes em dado estado da vida. Ou melhor, nunca voltamos à eles porque nunca os abandonamos ou os superamos, eles andam conosco vida adentro, de mãos dadas, e vesti-los, encará-los de frente as vezes é a única maneira de vivermos. Temos de dar às mãos ao feio, ao horror e à dor que nos forjou. Do contrário nunca poderemos seguir adiante. É uma purgação que se faz no dia a dia. A catarse através pelo lado escuro, cego e macabro da vida

De mãos dadas com o desejo e com o horror, cega e eternamente, sem sangue, mas adiante, sempre.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Exposições




Neste final de semana mergulhei nalgumas exposições; umas muito boas e outras nem tanto.

A 28ª Bienal de SP nem vale a pena comentar...mas vamos lá: fez me sentir culpada de ser uma profissional da área das artes e perceber como deixou-se acontecer uma mostra tão frustante como esta. Impressionante. No andar térreo alguns vídeos datados de Godard e outros; que para tanto não precisavam ser exibidos sob o título de uma Bienal Internacional, mas caberiam muito bem numa mostra de filmes temáticos. Indo ao segundo andar, nos deparamos com o já 'famoso' vazio; onde tentou-se recheá-lo de todo um conteúdo falsamente conceitual, passando pela discussão da arquitetura modernista de Niemeyer, patati patatá....aí, ai, muito blá blá blá para nenhum conteúdo! Trabalhei neste espaço durante duas Bienais, em 1994, a Internacional e a outra, intitulada Bienal Brasil Século XX e garanto que não é necesásria uma Bienal, uma instituição abdicar de instalar obras no andar para estabelecerem-se questionamentos estéticos e / ou filosóficos; e vejam bem que àquela época quem era o presidente da Fundação é nosso hoje tão famoso Edemar Cid....Havia todo um peso da curadoria de Aguilar, assim como o principal: OBRAS. Foi lá que nasceu o famoso "espaço climatizado", muito presente em posteriores Bienais. Mas desta vez, a Curadoria relamente deixou a mão escapar. Num terceiro andar todas as obras se confundem numa espécie de ‘mobiliário’ em compensado de madeira que parece uniformizar tudo, mimetizando as obras e tornando-as neutras umas às outras. Salvam-se alguns vídeos(antiguésimos), de Marina Abramovic e as lindas gravuras em metal de Leya Mira Brander e um vídeo de uma artista finlandesa. É isto a Bienal. Ou melhor, foi isto, ainda bem que acabou. Mas que vergonha Einnn Dona Fundação Bienal! Podiam ter pulado esta edição e feito uma coisa direito. Porque eu como profissional da área faço bem feito ou não faço. Fico pensando nos estrangeiros que fretaram vôos e vôos para virem até aqui checar esta BIENAL...do vazio. Ficaram de queixo caído e a única coisa que lhes restou foi literalmente escorregar pelo lúdico tobogã do artista belga Carsten Höller , que leva diretamente à frustante saída da mostra! Será que uma mostra que sempre se enquadrou no no topo da agenda mundial de acontecimentos das artes plásticas merece acabar numa escorregade-la ??

Depois decidi-me por ir ao SESC Pinheiros, onde se encontra uma maravilhosa mostra do teatrólogo e multímidia Robert Wilson, mas comumente conhecido como BOB WILSON. Fantástica, recomendo. Feliz perceber o perfeito casamento da Arte com a Tecnologia ( o que também pude aferir na também excelente mostra em cartaz no Itaucultural "CINEMA SIM"). Vejam ambas!!

Na mostra de Wilson, em cartaz, até o inicio de Fevereiro, intitulada “VOOM PORTRAITS” são expostos nos 3 andares do prédio, vídeo-retratos de alta definição, um feliz encontro entre a fotografia, o filme, a literatura e a música. Portraits em televisores de altíssima definilção, onde alguns atores, tais como Brad Pitt, Isabella Rosselini e Wynona Ryder, e outras personalidades do mundo POP, tais como a artista burlesca Dita Von Tesse, posam sob precisa direção de Wilson; cada um na pele de uma ‘personagem’ e desenvolvem no deocrorrer do tempo da filmagem mínimos e sutis movimentos, gestos cuidadosamente coreografados. Fiquei de boquiaberta. Estabelece-se um delicado bate papo com os retratos de Andy Warhol, as performances do também performático Matthew Barney (marido da ótima Björk), e uma mescla de outros tantos cineastas interessantes, Tim Burton, etc. A luz é sempre uma coadjuvante dos ‘retratos’. Algumas poucas manipulações são aplicadas sobre os vídeos que são sempre lupados e com 'trilhas musicais' compostas por Peter Cerone, Michael Galasso e Glen Gould só contribuem para a melhor qualidades destas peças. Wilson, como ninguém soube combinar o movimento, a iluminação, a imagem em alta deinilção e um tema mais que clássico e recorrente da história da arte, o Retrato e, trazê-lo para uma discussão contemporânea, . E isto tudo sem perder conteúdo. Vejam!!

De lá fui ao Instituto Tomie Ohtake conferir a mostra em homenagem a José Saramago. O material traz obras inéditas, manuscritos, notas pessoais, primeiras edições, traduções, fotografias, vídeos e gravações originais que traçam a vida literária do escritor.

A mostra é intitulada “A consistência dos Sonhos”. Mas nossa, como é difícil transpor toda uma vida dedicada a literatura, à escrita , a solidão das páginas em branco e transpo-lá ao espaço expositivos de um ‘museu’. A literatura não se presta facilmente à ser ‘vista’ como um objeto museulógico. A coisa toda ficou muito didática e tediosa, sai de lá com dor na coluna de tanto que me debruçava sobre as vitrines que exibiam fotos e seus manuscristo. Saramago é um escritor maravilhoso mas, a exposição pareceu-lhe meter correntes nos pés. Excetuando-se as duas últimas salas grandes em que duas obras de um mesmo artista, articulam no espaço, fazendo projeções com palavras em cima de programas de softwares, se salvam as entrevistas em vídeos, onde podemos ver o próprio ganhador do Prêmio Nobel falando por si mesmo e não por uma enfadonha catalogação documental.

Hoje para acabar minha esbaldação de arte, fui à Pinacoteca do Estado , checar, já que era o último dia da mostra “Eliseu Visconti: Arte e Desig”, deste que foi nosso pintor que, como ninguém soube juntar a chamada Grande Arte com as Artes Decorativas do começo do século XX. A mostra era divina, exibindo os estudos preparatórios para a Boca de Cena do Teatro Municiapal do Rio de Janeiro a,ssim como seus cartazes, porcelanas, estudos de pinturas e volutas Arte Nouveau. Ele era nosso verdadeiro Klimt. Quem puder sugiro que quando forem ao RJ chequem com os próprio olhos a decoração do teto do Teatro Municipal assim como o pano de boca de cena. Viagei na mostra e sai de lá me sentindo numa Paris da Belle Époque!!

Muito bem para quem começou o final de semana escorregando por um tobogã à lá Playcenter num daqueles que já foi o local de grandes Bienais.

Deus do Céu. Ainda bem que Wilson e Visconti me salvaram!

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Queime depois de ler


O novo filme dos irmãos Coen, “Queime depois de ler”, em oposição ao sério, “Onde os Fracos não tem vez”,em que Javier Barden faz o papel de uma assassino frio e calculista numa espécie de faroeste dos dias de hoje ,é uma verdadeira ‘comédia de erros’. Todos os personagens são anti-personagens, anti- heróis. Tropeçam, caem, erram, dão tiros e matam por engano, não sabem chantagear. A trama, se é que assim pode-se chamar, trata do nada sobre o nada; ou seja, uma trama que se desenrola em cima da importância de um falso ‘conteúdo’. Na verdade é um filme inteligente que nos mostra toda uma rede de personagens imbelicilizados, um verdadeiro anti-filme.

Osbourne Cox (John Malkovich) é um analista que trabalha para a CIA. Ao chegar em uma reunião ultra-secreta ele descobre que foi demitido. Revoltado, ele resolve se dedicar à bebida e a escrever um livro de memórias. Katie (Tilda Swinton), sua esposa, fica espantada ao saber da demissão de Osbourne, mas logo deixa o assunto de lado por estar mais interessada em Harry Pfarrer (George Clooney), um investigador federal casado que é também seu amante. Paralelamente Linda Litzke (Frances McDormand), funcionária de uma rede de academias, faz planos para uma grande cirurgia plástica que deseja realizar. Ela tem em Chad Feldheimer (Brad Pitt), um professor da academia, seu melhor amigo. Até que um dia um CD perdido cai nas mãos de Linda e Chad, entregue por um faxineiro da academia. Ao perceberem que se trata de material confidencial, eles ligam para Osbourne Cox tentando conseguir dinheiro para evitar que seu conteúdo seja divulgado.

Brad Pitt esta hilário, um verdadeiro personal trainner idiota, que vive com uma garrafinha de água, mastigando chicletes e que não larga seus fones do iPOD, e parece nunca ter abandonado a mamadeira. MacDormand esta excelente no papel de uma mulher complexada em busca de ‘seu novo eu’, eternamente insatisfeita com seu corpo vive na internet à caça do homem perfeito. George Clooney é um amante idiota; um cafajeste que come toda e qualquer mulher que aparece na sua frente e jura falsas verdades de amor. Malkovitch talvez seja o personagem mais ‘sério’ do filme. Vive com os nervos à flor da pele.

O filme conta a história de pessoas incrivelmente cretinas que fazem coisas extremamente estúpidas relacionadas à sexo e a vida em si. O que torna tudo mais interessante é que não se tratam de políticos, mas de pessoas normais, como todas nós....

Não consegui me segurar de tanto rir. O filme fala de anti -espiões, é uma verdadeira homenagem aos filmes de espionagem, onde pululam chantagens,heróis gostosões e tramas diabólicas e pitorescas.

Uma verdadeira comedia de humor negro.

Nos faz pensar a respeito das estupidez humana e perceber de verdade que estes seres banais e idiotizados estão muito presentes em nossas vidinhas cotidianas.....

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vicky Cristina Londres....


Todo mundo tem comentado comigo que adorou o filme, que ele é leve, divertido.

Mas eu não gostei.

Achei tão morninho. Um romance alternativo americaninho qualquer é a mesma coisa.


Adoro Woody Allen mas, apesar da linda fotografia, apesar dos lindos travellings a la Hitchcock, apesar do lindo elenco, apesar do Javier Bardem, aí, aií....apesar de Gaudí, apesar de Miró, apesar das lindas locações, e apesar da ótima trilha sonora e do violão de Pacco de Lucia, o filme não decola.

Onde esta o bom e velho humor irônico de Allen?

Onde esta a tragicomédia?

O filme não tem punch, o rítmo engasga; peguei-me olhando no relógio vários momentos.

Onde está o bom roteiro dos tão ótimos “Match Point, “O sonho de Cassandra”, “Tudo o que você queria sabe sobre sexo mas tinha medo de perguntar”; os amores de “Hanna e suas imrãs”? Onde esta a ironia judaica? Onde esta o meu esborrachar-me de rir ? Onde esta a trama inteligente e rápida?


Allen, ficou comum; até o central triângulo amoroso torna-se morno apesar do sex appeal de Barden e Cruz.

O beijo “gay’ que acontece entre Cruz e aquela loira sem graça- que acha que é a reeencarnação da Marylin Monroe- a tal da Scarlett (que não tem um décimo da força da mesma personagem de "O vento Levou..."), é uma vergonha de dar dó....aliás, Allen, deve ser por isso que ela é sua nova atriz-ícone, é gelada que só ela! E ainda por cima anda com os pés virados para dentro, prestem atenção quando Allen foca em seu andar...tadinha nem as botinhas ortopédicas a moça usou...

Bom, voltando do meu devaneio,,,,


Almodóvar já fimou isto tão melhor. Allen deve deter-se à Inglaterra, seu filme em solo espanhol não tem nada de caliente. Penelope Cruz é uma péssima histérica que até Freud riria.

Deveria ser Vicky Cristina, Londres.

O Fog lhe combinaria melhor.

Deixem Bardem e Cruz nas mãos de Almodóvar e dos irmãos Cohen que estes os sabem aproveitar.

Allen não tem ginga, não sabe bailar o flamenco

Volte aos pubs londrinos e ao tipos americanos, estes você sabe filmar muito bem !
Ou coma muita paella!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Los Dardenne



Algo de novo desponta no novo cinema Belga.

Vi neste final de semana o excelente filme
“O Silêncio de Lorna” , de Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne, ou mais comumente conhecidos como os irmãos Dardenne. Creio que estes ficarão na história como os também ótimos irmãos Tavianni e os Cohen.

Lorna (Arta Dobroshi), deseja se tornar sócia em uma lanchonete, juntamente com seu namorado belga. Para tanto ela aceita se casar com Claudy (Jérémie Renier), apenas para assim adquirir a nacionalidade belga. Após algum tempo ela é obrigada a mais uma vez se casar, desta vez com um mafioso russo, para obter sua cidadania. Só que, para que este novo casamento seja possível, Lorna precisa antes matar Claudy.

Ano passado vi da mesma dupla “A criança”.

Ambos filmes estão inseridos no debate dos novos paradigmas urbano-sociais. Tratam das relações humanas, do urbano, das novas tragédias sociais: imigração, aborto, paternidade,tráfico de crianças, vistos,e o dinheiro, sempre o dinheiro!
Infatigável preocupação do ser humano de ter uma identidade, uma nacionalidade. Neste que vi ontem, a questão dos chamados “green cards”, a obtenção da nacionalidade, em questão, a belga. Lorna é aquela que busca e alcança esta nacionalidade e também serve como moeda de troca para outros a obterem. As línguas faladas no filme anternam-se entre o francês (belga) e o albanês. Muito bom ver produções em que o inglês não é mais a língua central. O novo e inteligente filme trata dos cidadãos da Europa central e sua busca incansável de obter direitos igualitários para tornarem-se cidadãos de outros países.
Talvez este seja um tema central a ser tratado pelos governantes atuais, entre eles,Obama, visto que ele, em sua condição negra e de ‘linhagem’ africana deve ter tido pais que passaram pelos mesmos ‘entraves’ imigratórios....
Estes seres humanos querem poder ter o direito a tornarem-se cidadãos europeus. Fugir de seus países dilacerados pelas guerras civis.

No outro excelente filme da mesma dupla, que tive a oportunidad de ver ano passado no Cinesesc, o mesmo ator loiro, também presente em “Lorna’ como o marido junkie, era o pai de um bebê, e via-se metido na venda e tráfico de crianças Lá o bebe era O estorvo, a morte,e aqui, em Lorna, este a ‘salva’ . Lorna salva-se pela sua ‘gravidez’. salva-se por descobrir algum vinculo no mundo cão em que vive; onde as pessoas são sempre peças de um jogo de "War" e usadas como utensílios descartáveis.

Os Dardenne conseguem criar como ninguém um diálogo contemporâneoa entre seus filmes; estando sempre na linha de ponto das questões pulsantes do nosso louco e descriminatório mundinho cão. Este ganhou o prêmio em Cannes pelo seu excelente roteiro.
Arta,a iniciante atriz albansesa, é ótima, seus traços em muito me lembraram uma jovem Isabelle Adjani. O filme tem ‘punch’, a montagem é dinâmica e pulsante e nos deixa cativos desta frenética história.

Recomendo também o excelente
"A Criança", de 2005, em que Sonia (Débora François) é uma jovem de 18 anos, que acabou de dar à luz a um menino. Bruno (Jérémie Renier), o pai, com 20 anos de idade vive de pequenos roubos cometidos por ele e seus comparsas adolescentes. Os dois vêem de maneira bem diferente o significado da chegada desta criança, sendo que os atos de Bruno em relação ao filho colocarão o casal diante de sérios dilemas sobre suas existências.
Foi o ganhados da palma de ouro de canes neste mesmo ano

Há ainda o primeiro filme da dupla, que ainda não vi, mas que também deve seguir a ótima linhagem, chama-se
"Rosetta", de 1999.
Vou á caça na videolocadora....e viva a Bélgica!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

OBAMA


Obama chegou lá

Luther Kink deve estar feliz no túmulo.

Malcom X apercebeu-se que discursar tanto em praça pública valeu a pena.

Michael Jackson deve estar envergonhado de ter-se desbotado.

Billie Holiday não mais choraminga sozinha defronte à “Blue Moon”

Nina Simone ergue várias taças, brindando-o

Pelé faz um gol

Gilberto Gil congratula-se de um dia ter estado ali, no poder

Daiane dos Santos faz um duplo mortal carpado

Stevie Wonder encherga luz ao fim do túnel

Mandela já pode deixar a terra feliz de um de seus ter chegado mais longe que ele

Ray Charles compõe um novo som

Todos sorriem

Obama esta lá. Obama sorri.

De alto do pódio. Agora, não mais contra. Mas ,no poder. Espero que a luz esteja nas suas mãos e os EUA possam ser um país com menos segregação racial e impecilhos aos imigrantes e tudo o mais que seu plano de governo propõe. E que o mundo beba do mesmo vinho.


Que a escravidão extinga-se no mundo

Parabéns aos negros.

Parabéns África

E ainda por cima o cara é um ‘negro gato de arrepiar”, espero que da melhor estirpe


Habemos Obama!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Veneza, novamente


Acabei de ler o romance "A Morte em Veneza".
Há pouco fiz aqui um texto sobre o filme de Luchino Visconti, de mesmo título.
O filme não perde para o livro e vice-versa. É raro isto acontecer; lembro-me assim rapidamente da adaptação cinematográfica do também excelente "O Nome da Rosa" de Umberto Eco.
As palavras de Thomas Mann tomam formas corpóreas no filme de Visconti. As roupas são aquelas mesmas vistas no filme,o cenário é aquele, os sentimentos são aqueles, o arrebatamento do belo é aquele de Visconti. Bom, sou suspeita, pois Visconti é um de meus preferidos; e agora, Mann também o é.
Suas palavras deslizam em paisagens que são as de Visconti. Aschenbach vai a Veneza sedento para a distância,com saudade para a distância e para a novidade. Ele quer isolar-se do mundo civilizado, do trabalho e da rotina. Mas não esperava enamorar-se pelo belo; vai em busca da solidão
Aschenbach morre contamplando o belo. Quem pode querer mais do que isso? Deitado num fim de tarde, observando a praia calma, o suave ronronar das ondas no mar,num por de sol, envenenar-se e esvair-se na contemplação do sublime e inalcansável.

Agora vou-me dedicar a outro Mann, "A Montanha Mágica". Tantas vezes começado e nunca adiante. Espero surpreender-me novamente.

Da Vida e Morte das Marionetes


Neste final de semana tive a oportunidade de ver o ótimo “Da vida das Marionetes” de Ingmar Bergman. Trata-se de um filme dos anos 80 em que questões básicas do ser humano são colocadas em questão. Como em seu fantástico “Sétimo Selo” em que o homem joga xadrez com a morte, este de 1956, aqui esta também se faz muito presente, tal como uma personagem.

Em “Marionetes” um casal em crise é o ponto central; Peter e Katarina. Peter vai ao psicanalista, pois sonha que matou a esposa.

Eros e Tanatos, mais uma vez. A atração que temos pela morte. Matamos aquilo que amamos? Ele pensa em matá-la, mas não consegue, acaba por matar uma prostituta; tomando outra pelo objeto de seu amor/ ódio. A catarse realiza-se na morte não deo objeto amado mas de seu espelhamento invertido na sociedade; na puta que não é a mulher ‘pura’.

Katarina tem um amigo gay- TIM, este afirma que fidelidade não existe; se diz “viciado em intimidade, mas o que é a intimidade? É sempre a mesma coisa, o corpo se torna um obstáculo. Depois a alma.

Logo se esta numa confusão de sentimentos, fantasias e acordos.” Ele se olha no espelho e fala do envelhecimento, das rugas, das marcas da vida. Diz “que não entende a preocupação do ser humano com o tempo, porque alguns especialistas dizem que o tempo não existe.Você se transforma nisso. Toda discussão sobre intimidade é um sonho. Brutalidade e obscenidade. Prazer, sexualidade, horror e obscenidade. Ele precisa disso para viver.” Mas será que só ele, na sua condição homossexual ou todos nós também?? “Alguém me matará, mas isto é um pensamento excitante. Há certos poderes que não consigo controlar...Talvez seja este o paradigma entre a morte e a vida. A dor e o prazer, o arquétipo central do ser humano, a vida o trabalho, o sexo, as pílulas, são poderes secretos. Mas será que eles ajudam? Talvez seja este o processo do envelhecimento, a putrefação.’ Chego a conclusão que esta mistura de carne, sangue, nervos e pedaços de ossos contem duas totalmente incompatíveis....duas pessoas incompatíveis . Todos nos somos dois, todos nos somos morte e vida, luxuria e caos.Quando chegamos ao orgasmo nosso nariz esta tanto na merda que quase sufocamos”

Ao fim do filme quando Peter comete o assassinato da prostituta e vai preso, uma voz em off diz: “Só possuímos e temos controle daqueles que matamos....só aquele que se mata tem controle sobre si próprio.”

É isto a vida, pulsão e prazer pela morte também?? Somos então apenas marionetes nas mãos de algo maior ; repetimos padrões, “patterns” comportamentais que oscilam do prazer pela dor e da dor pelo prazer?

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Literatura de Celular

Por estes dias, uma querida amiga, mandou-me o convite para a Mostra SESC de Artes; dentro deste uma especifica, de Literatura pelo celular; do qual inscrevi-me e há cerca de uma semana venho recebendo short-cuts, pequenos contos, em meu aparelho que alimentam meu dia-a-dia de certa poesia em tom de rima curta. Publico abaixo alguns que me surpreenderam e fizeram aspirar gotícolas do sublime em meu corriqueiro cotidiano:

"Esta tatuagem vai doer?
Só no divórcio." Reinaldo Martins

"Tocou o sax antes de puxar a corda no pescoço. No espelho, o bilhete: aqui jazz." Raimundo Carrero

"Bebeu, chorou, riu, errou, cresceu, amou,feriu, bateu, apanhou. Faria tudo de novo." Pedro Biondi

"Palavra ou mágica? Só uma opção. escolheu. Errado: Não era palavra. Mas escritor sempre opta pela palavra." Moacyr Scliar.

" O enfermeiro estava no elevador com o cadaver na maca. Acabou a luz. Ele acendeu um cigarro e ofereceu ao morto." Marcelo Rubens Paiva

"Mãe, Alice me bateu. Não liga, essa boneca é muito ignorante." Livia Garcia-Roza.

"38mm.
Estourou o céu da boca. Ele escutou a sua prece." Luciana Miranda Pennah

"50 anos
de hoje em diante só faço o que quero. É cedo para isso, disse minha mãe, que nunca se deu ao luxo." Ivana Arruda Leite.

"Amor deles água de barrela: ele gostava do Rimbaud; ela do Rambo." Evandro Affonso Ferreira

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Naranjo em Flor


Nada como recordar um bom e velho tango, que já é quase um cult; minha veia Argentina no momento pulsa pelo sempre caliente e passional "Naranjo em Flor", de 1944, do compositor Homero Expósito, sempre muito bem interpretado por Astor Piazolla e numa versão mais recente pelo grupo Bajofondo Tango Club; abaixo a delicada letra para aqueles que, como eu, gostam de bailar com cravos entre os dentes...


"Naranjo em flor"

Era mas blanda que el agua,
que el agua blanda,
era mas fresca que el rio,
naranjo en floor...

Y en esa calle de estio,
calle perdida,
dejo un pedazo de vida
y se marcho...

Primero hay que saber sufrir,
despues amar, despues partir
y al fin andar sin pensamiento...
Perfume de naranjo en flor,
promesas vanas de un amor
que se escaparon en el viento...

Despues, que importa el despues?
Toda mi vida es el ayer
que me detiene en el pasado,
eterna y vieja juventud
que me ha dejado acobardado
como un pajaro sin luz.

Que le habran hecho mis manos?
Que le habran hecho
para dejarme en el pecho
tanto dolor?

Dolor de vieja arboleda,
cancion de esquina
con un pedazo de vida,
naranjo en flor...

terça-feira, 30 de setembro de 2008

Morte em Veneza


Revi um clássico da cinematográfica Viscontiana: “Morte em Veneza”. Uma produção apuradíssima e bem tratada em seus mais delicados detalhes.
Visconti filmou como ninguém Thomas Mann, num clássico da literatura em que um compositor alemão viaja para Veneza após recomendações médicas; sua saúde é muito frágil e ele vai ao lindo balneário do Hotel Lido tentar recuperar-se. Mas eis que Gustave, o compositor, “apaixona-se” pelo efebo Tadzio; um menino adolescente que lá encontra-se com suas irmãs e mãe, a linda e estilosa, Silvana Mangano. O filme é maravilhosamente filmado naqueles rápidos closes que só Visconti sabe fazer. O figurino é divino, apaixonei-me por todos aqueles chapéus agigantados e vestidos dos 1900 ; a cidade que esta afundando não poderia ter sido melhor cenário para esta ‘tragédia’. O homem arrebatado pela beleza apolínea do menino semi- Deus. O encontro do compositor com a obra de arte perfeita embalada pelos acordes da 5ª sinfonia de Mahler. É mesmo a definição do sublime.
A beleza de Tadzio atraí e oprime Gustave. Eros e Tanatos, aquilo que o salva ao mesmo tempo vai corroendo-o, sugando suas forças e na metáfora da cidade empesteada pelos ares mediterrâneos, o chamado siroco, Gustave embeveda-se pela beleza de Tadzio que o arrebata e ao mesmo tempo o faz alcançar as esferas do sublime.
Este filme sempre foi tratado como detentor de uma temática homossexual, mas ao meu ver, não é nada disso; muito fácil taxá-lo como tal.... ele é o encontro do homem com a beleza, a beleza da juventude, da perfeição, dos traços andróginos de Tadzio, que lembrou-me muito os rostos das muitas “Monalisas” de Da Vinci, que no fundo, são sempre uma só. Visconti, expõe este cânone, esta perfeição; e o filme trata do arrebatamento, do apaixonamento de nós seres humanos pelo Belo. Afinal o que nos salva ao mesmo tempo nos mata, não? Embriagar-se do belo é também deixar-se dominar, afogar e inundar-se por este. ]
Gustave morre ao final, como o titulo do filme já diz, mas sua morte é asfixiante, sofrida, dolorida, ele deixou-se afogar pelas garras do belo; não o belo narcísico que afoga-se em si mesmo; mas pela descoberta do Belo no fora de nós mesmos e na impossibilidade deste ser possuído, amado e guardado. Enquanto Gustave é frágil, definha e está na meia idade, Tadzio, encontra-se no auge, na puberdade, com sua tez plácida, corpórea como um mármore puro e seus cabelos loiros e vastos - Gustave morre pelo belo. Trata-se do amor platônico, por algo que ele não pode alcançar, tocar mas que o corrompe ao mesmo tempo que seduz
Retiro este magnifíco trecho do original de Thomas Mann:
"Ele era mais bonito do que as palavras podiam exprimir, e Aschenbach (o homem de meia-idade) sentiu dolorosamente, como tantas vezes antes, que a linguagem pode apenas louvar, mas não reproduzir, a beleza que toca os sentidos. (...) Tadzio (o rapaz polaco) sorriu; (...) E recostando-se, com os braços caídos, transbordando de emoção, tremendo repetidamente, segredou a formulação tradicional do desejo - impossível, absurda, abjeta..."
É o encontro do belo ideal, que Gustave buscava alcança em sua arte, que materializa-se na pessoa de Tadzio.
Gustave tenta rejuvenescer, mas a artificialidade perde para o poder do belo angelical, longilíneo, puro e espontâneo. Mas a vida é assim, apaixonamo-nos pelo amor ou pela pessoa amada? A gente se embeveda pelo objeto amado ou pelo enamoramento em si??
O belo e o amor nos encapsulam e nos devoram.

A perfeição o mata.
Este é o arrebatamento maior da vida.

domingo, 7 de setembro de 2008

Linha de Passe



Fui ver “Linha de Passe” de Walter Salles e Daniela Thomas.

De inicio saí reclamando que o filme se pretendia “apologístico” em relação à já de fato conhecida pobreza brasileira em contraponto à vida dos ricos e classe média. Achei que o filme não tinha “história” e perdia em qualidade em relação ao ótimo “Central do Brasil’, do mesmo diretor.

Mas hoje me peguei andando com o cachorro e refletindo sobre o filme.

Uma história simples, a doméstica Cleuza, mãe de quatro filhos ( grávida do 5º), mora na zona periférica de São Paulo. Seus quatro filhos travam verdadeiras batalhas heróicas pela sobrevivência e dignidade no decorrer do filme: O menor, Reginaldo, sonha em conhecer o pai, andando de ônibus delira em pensar que qualquer um dos motoristas destes pode ser o pai . Seu sonho é este: ser motorista de ônibus: outro, Dênis, é moto-boy , enfrenta diariamente aquela luta já conhecida por todos nós destes meninos que correm contra o tempo no trânsito alucinado e colocam suas vidas em risco. Dinho, é evangélico e, Dario sonha em poder ter uma chance de ser jogador de futebol.

Talvez seja isto que não percebi: o filme não tem uma História, pois afinal que história a nossa sociedade brasileira pode oferecer a estas pessoas às margens da sociedade? Que futuro, que oportunidades, que chances? Estes indivíduos são sempre tomados como assaltantes, bandidos, “negros” e seres inferiores. Nós os vemos assim, e assim os tachamos. O preconceito nos envenena.

O filme trata da pobreza. Mas que pobreza? A pobreza na verdade é isto: o não acesso à riqueza das oportunidades, de chances, da verdadeira colocação na sociedade, onde capacitados todos nós possamos passar à LINHA DE PASSE e efetuar o lance “Garrincheano” certo para o gol certeiro. A pia que vive entupida é a metáfora para esta vida que nunca anda, nunca desatola deste lamaçal; dos políticos que mais se preocupam em fazer plásticas e lipo-aspirações em seus rostinhos idiotas para conquistar nossos votos e esquecem-se de efetuar verdadeiras cirurgias corretivas nos bairros e nas VIDAS destas pessoas esquecidas, proporcionando-lhes oportunidades de se tornarem PESSOAS; para poder comprar a chuteira certa, a bolsa bonita para presentear a mãe, aprender a dirigir, para enfim, serem donos de seus próprios destinos e pilotarem seus próprios automóveis.

Estas pessoas não querem nossa esmola, não querem nossos favores, querem poder trabalhar, e ganhar por isso; Cleuza não quer parar de trabalhar e ser substituída por outra, mesmo quando grávida; o moto- boy assalta para pedir para ser olhado, ele diz ao “playboy”: “ME OLHA! VOCÊ ESTA ME VENDO? - ela quer que a gente a encare e a inclua, inclua estes seres na vida que nós, como classe média vivemos e mesmo assim tentamos neste mar de lama poder ter acesso e oportunidades. O filme fala da INCLUSÃO. Talvez nós sejamos às suas drogas, e não eles às nossas, os pobres devem ser incluídos e não excluídos, marginalizados, devemos trazer eles para o discurso, para a sociedade e não para a exploração da sua mão de obra barata . A overdose que Dario toma não é de drogas sintéticas oferecidas pelos "mauricinhos ricos", mas sim uma overdose de exclusão.

Está mais do que na hora de isso acontecer ou esta guerra civil em que vivemos provará mais cedo ou mais tarde que nós somos as pedras nos caminhos destas pessoas e talvez como no Rio de Janeiro, iremos nos extinguir, matando-nos. .

Percebam que o argumento central deste filme foi todo feito por um cineasta que como todos sabem é o maior herdeiro de um banco privado deste país.

Poderia ser um filme de direita que tal como a estética “Sebastião Salgado’, explorou a pobreza e fez esta ter ares bonitos em suas fotos.

Mas não; eu saí do filme engasgada, entupida e com vergonha de ser uma pessoa burguesa, que é mais VISTA e OLHADA do que estes homens e mulheres bonitos e tão dignos de nós de serem olhados e encarados de frente por nosso governo. Mas saí da sala de cinema me sentindo tão pouca CIDADÃ como eles. Eles são cidadãos como nós e a garantia de seus lugares na sociedade, para que eles possam fazer o passe certeiro, lhes existe por direito e não por políticas paternalistas de pena e exclusão sociais.

Parabéns ao Prêmio Sandra Corveloni, e parabéns aos que desempenharam os papéis de seus filhos, todos ótimos atores!

Espero ter conseguido "incomodar" você leitor; vá ver o filme e veja se você também não saí deste pensando a respeito da dignidade e pathos do ser humano.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A Nova Olímpia




Originalmente os Jogos Olímpicos nasceram em pleno século V a. C., na Grécia , aquela de Homero; constituiram-se como uma importante celebração e tributo aos deuses. A origem dos Jogos Olímpicos na Grécia Antiga é frequentemente associada à celebração do esporte e do culto à beleza estética humana, como se estes fossem seus objetivos principais.

Tudo era espelhado em cânons de beleza áurea, harmonia, simetria e racionalismo. Foi lá que os Renascentistas beberam, depois os Neoclássicos no século XVIII e, hoje a kitsch e mau utilizada arquitetura de decoração de interiores-novo-rica paulista.

Na cidade de Olímpia havia um templo de dimensões magníficas, dedicado a Zeus. Este Zeus era o chamado Zeus Olímpico, e junto a seu templo se realizavam os jogos esportivos idênticos aos das outras cidades. Porém era em Olímpia que os jogos atingiam sua plenitude, em organização e número de participantes, e onde desenvolveram-se como competições regulares e de extrema importância para todos os helênicos – e eram chamados Jogos Olímpicos.

A Olímpia do século XXI é hoje, feita de paredes de água e também de palhas do ninho. Em 2001, com a queda das Torres, foi decretada a falência da arquiteta sólida da argamassa aparente de concreto gótica - agulhada que acima de tudo e todos parecia querer sobrepor-se.

Agora, os arquitetos buscam na organicidade a celebração da potência humana, cada vez mais otimizada em músculos hiper- inflados, maiôs com tecnologia que imitam a pele de tubarões,etc..

Nos jogos olímpicos atuais, a arquitetura quer ser orgânica, podemos ver isto no centro de competições aquáticas, o chamado “Water Cube” ou ainda no “Estádio Nacional”, popularmente conhecido como “Ninho do pássaro”. O Homem-atleta almeja ser cada vez mais superlativo; tornar-se mais máquina, mais veloz, mais aerodinâmico, mais forte e concomitantemente a arquitetura - arte de erigir e edificar ou de projetar e traçar planos mais fluída, com suas formas clássicas dissolvendo-se. É a consagração da desmaterialização da arquitetura.

As paredes inspiram-se em bolhas de água, o uso e utilização da água é totalmente reciclável, a energia captada por células foto- sensíveis torna todo o Cubo auto-suficiente.

No Ninho do pássaro,fícamos sempre a espera de uma gigante ave que ali poderá pousar a qualquer momento à cata de seus filhotes e nos garfar.....

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Embutir-se


Ela acordou com um tersol do tamanho de um asteróide no olho. Saiu para passear com o cão e pisou num coco de outro. A reunião que tinha marcada para depois do almoço foi cancelada.Saiu na rua e caiu coco de passarinho na sua bochecha.

Mon dieu!!!!

Quem mandou uruca-pensou ela. Melhor não ter acordado? Melhor não ter saído de casa? Melhor não ter vivido?

Ela estava cansada das pessoas, se entediava com os homens que a paqueravam e aqueles outros com os quais relacionava-se; o papo já não tinha graça e descobria que viver sem sexo podia ser algo viável após conversar com uma colega que já tinha desistido deste há algum tempo e, como ela tinha preferido diluir-se nos livros e seus meandros ou nos ótimos filmes da televisão a cabo.

Neste final de semana ela se esbugalhou em lágrimas vendo um então jovem Dustin Hoffman e seu pequenino filho perceberem que podiam viver sem ‘a mãe’ no já cult “Kramer X Kramer” ; ou então uma Shirley Mac Laine que nos já idos anos 70 tinha que lidar com a ‘moderna’ cabeça dos homens (entenda-se por este Jack Nicholson), que não querem assumir compromissos, enquanto ela, sozinha vê sua filha definhar pelo câncer em “Laços de Ternura”.

Ela chorou e chorou. Não sabia mais se chorava pelas lágrimas de Dustin, de Shirley ou pelas suas mesmo.

Estava cansada da batalha diária, do ter que matar leões e dragões, pagar contas, pegar trânsito, procurar ‘aquele’ homem que resolveria sua atual solteirice.

Afinal resolver o que? Não havia nada para ser resolvido, não existiam problemas, portanto não haviam soluções para buscar;nada para ser purgado.

Mas como bem havia dito um amigo seu: “Quando a gente se cansa é bom sinal, podemos operar mudanças em nossas vidas”...será?- Ela arguiu para si mesma.

Mas, aí que preguiça...de querer mudar o mundo dentro de si mesma.

Viu-se como a personagem de Chabrol (outro filme do então "filmíco" final de semana que havia tido), em “Uma garota dividida em dois”:a lâmina que a cortava,pungindo-a, distonando e entonando-a.

Tudo a levava para longe da vida dos ‘normais’, dos casados, com filhos, com namorados, da vida comportada.

Não era isso que ela buscava agora e nunca havia sido , "aí que chatice"- pensou.

Que vontade de ir para o Camboja de moto. Easy Ryder. Sozinha, sentindo o vento lambendo sua face...

Melhor comprar a passagem de avião,mas não tinha dinheiro.

Melhor ficar quieta na sua com seus novos livros que comprou.

Embutir-se.

Encolher-se tal como "Alice no País das Maravilhas" (aliás, por onde andam vocês maravilhas? - novamente pensou ela com seus botões),tomar a poção mágica e Pá- Pum: Arrivederti !

Me esqueçam por um tempo - ela pensou ."Estou de férias de você, mundo e de vocês, pessoas"- disse em voz alta,querendo convencer-se.

"Por favor, não disturbam."

Foi para o Camboja, com o Proust e a Sontag debaixo

dos braços.