sexta-feira, 25 de abril de 2008

Diante da Dor dos outros


Estava lendo o bom artigo de Contardo Calligaris, publicado ontem na Folha de SP, intitulado "A turba do pega e lincha", e não pude ficar indiferente.Mandei um comentário ao Contardo e aqui o publico. Recomendo a leitura deste artigo no link aqui publicado para posterior leitura de meu texto.

Pois é Calligaris, as pessoas do ‘pega e lincha’ na verdade purgam suas culpas exibindo-se na mídia que joga à todos nós neste turbilhão catártico. Sentimos a dor dos outros, e com ela nos identificamos para purgar nossos erros não redimidos, nossas mágoas mal resolvidas.

Vale lembrar o papel sensacionalista e oco desta imprensa sensacionalista, pois, não produz construção de significado nenhum da ininterrupta “masturbação” do caso Isabella.

Todos nós sabemos que diariamente, neste cá nosso Brasil , mulheres são espancadas, crianças estupradas por seus pais e padrastos, outros esmolando dinheiro nas esquinas e nada se faz. Já nos acostumamos com a violência, ela já nos é habitual. A dor e a convivência com esta tornou-se status quo em nossa sociedade.

Há um livro maravilhoso, creio que você o conhece, de Susan Sontag, intitulado: “Diante da dor dos outros” em que ela explicita a respeito da dor midiatizada, explorada e tornada coisa, objeto sensacionalista. A dor não é vivida mais. Ela é moeda de troca sensacionalista, os pais não choram a morte de seus filhos, não se enlutam. As coisas só passam a existir se a mídia as exibe. Nós, seres humanos, nos tornamos ocos, frios, máquinas insensíveis.

Onde foi parar o toque. O choro, a revolta???

A dor foi substituída pelo simulacro, pelo espetáculo. O “Big Brother” que se tornou o caso Isabella, com perspectivas remontadas do interior do apartamento, etc, revela que não mais distinguimos a realidade da ficção. Não me espantaria se em breve o Caso seja transformado em filme e de sucesso hollywoodiano com bilheterias esgotadas...

*para ler o artigo de Calligaris na íntegra aqui vai o link: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2404200826.htm

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Acrômios



Ontem fui formalmente apresentada ao Acrômio; ou melhor já o conhecia mas não sabia que este era seu nome de batismo. Isto mesmo, você já ouviu falar?? Técnicamente ele é "a apófise da extremidade externa da espinha da omoplata, que, no homem, se articula com a clavícula". Cuma??? Mais parece nome de algum elemento mineral da tabela periódica. Hehe..mas que nada, é um singelo osso da "carenagem" humana. Isto mesmo, todo mundo o conhece.
É um par de ossinhos, que nalgumas pessoas, faz aquele 'pequeno charme' e fica saltadinho para fora nos ombros.....já lembrou qual é? Aliás, um charme, você já viu, eu tenho certeza. Em ombros, masculinos então ficam lindos, dão uma delineado maravilhoso à umas bonitas costas largas. Fica aquele JE NE SE QUA. U-lá-lá!!

Eu remomendo para todos aqueles que se interessam pela anatomia humana, especificamente a masculina, a sentir um belo par de acrômios.

Um brinde aos acrômios, então!
Saravá!!

sábado, 19 de abril de 2008

Latitude Longitude

Bom, não tenho muito o que falar, o curta é de um grande e recente amigo meu, O João Paulo, talentosíssimo. Assistam, nada como divagar a respeito dos relacionamentos humanos; de como as pessoas estão na mesma verticalidade mas em movimentos, bolhas, lugares diferentes; mas mesmo assim, esbarram-se e se relacionam....faço aqui uma junção deste filme ao de Kar- Wai que vi ontem...os dois se complementam pela diferenças que os separam.....As línguas são diferentes, os olhos não olham na cara do outro, o toque já não existe mais.....
As distância entre as pessoas aumenta. A largueza consolida-se, os antigos meridianos que uniam, agora afastam. O Equador encontra-se agora no próprio umbigo e não mais na paisagem da outra pessoa.

sexta-feira, 18 de abril de 2008

My blueberry day


Sorvi uma deliciosa torta de Blueberry com sorvete de creme.
Fui assistir ao suculento filme de Wong Kar Wai: "My Blueberry nights". Aliás, voltei a acreditar no Amor.Haha. E que cineasta este para filmar o amor em longos slow motions; luzes entrecruzam-se com gestos humanos delicados, o sorvete grudado na beirada dos lábios transforma-se em paisagem. Um filme sensual e erótico como há muito não via. A trilha é maravilhosa, passando por Cat Power, Cassandra Wilson, Norah Jones, Gustavo Santaolla. Os atores estão ótimos: Norah é expressiva e até mesmo Cat Power numa sutil interpretação faz bem. E cá entre nós: O Jude Law é um lindo!Imaginem ele no meio do sorvete de creme e a torta de Blueberry ...unhmmmm, já me deu água na boca. Bom, eu sorvi, saí do filme flanando pela cidade em minha motoquinha e me sentindo compensada.
Feliz de saber que as histórias de amor acabam, outras pessoas surgem em nossas vidas, e tudo recomeça e além do mais PARA TODO MUNDO. Todos nós, sem excessão. Jogamos chaves fora, fechamos portas, ou não queremos mais abri-las e, janelas abrem-se diante de nós.
Eita chines bom de filmar o amor, as relações e fazer imagens sensualissimas apenas insinuando.
Adoro seu "Amor à flor da pele" e aquele Nat King Cole de fundo , é muita covardia ?
Aqui , em sua estreante filmagem nos EUA com elenco ocidental ele mandou muito bem .
Seus cortes são repentinos,e nos colocam em situações reais da vida cotidiana, as frustrações e os prazeres. A boa câmera que é seu olho, a música e os diálogos nos embalam e seduzem. E aquela imagem recorrente do sorvete derretendo-se e penetrando na torta é em si o resumo do filme todo. A tal cena de nudez e sexo recorrente é esta. Relacionar-se é sorver e derreter-se, penetrar e deixar-se ser penetrado.
Comam esta torta!

quinta-feira, 17 de abril de 2008

Editing Life


De tempos em tempos eu vou editando a vida. Mando às favas umas pessoas que entraram, passaram e sem eu ao menos me dar conta já deixaram de existir em mim. Pois é, da uma preguiça de querer guardar todo mundo dentro da gente.Ai, ai.... E as coisas então: toda semana sempre coloco papéis e roupas no lixo ou saio distribuindo por ai. Esta estética da acumulação não tá com nada. Aliás, para que consumir tantas coisas, o ultimo modelo do IPOD (eu nunca tive um, aliás), o IPHONE, a roupa tal, a calcinha X, o sapato Y??....na verdade são as coisas que nos consomem e ficamos reféns delas. E de vez em quando nos surpreendem quando encontramos elas jogadas por aí ou quando desabam nas nossas cabeças. As únicas coisas que guardo e sou ciumenta são meus livros. Aliás, estas não consideram coisas....são maiores do que isto. Até das minhas "histórias de amor" já me desfiz. Aliás, to editando o Amor ,ele mesmo, até. Tô achando o AMOR uma coisa muito da brega. Eu hein !
To com uma frase na cabeça: "Da vida nada se leva"; tomo esta do filme de Frank Capra e de meus queridos amigos designers da "Nada de Leva"(que, aliás, ontem deram uma 'palestra' arretada de boa lá na Gragnani num projeto que coordeno).
Afinal, o que levamos da vida? Quem levamos? Creio que, nem a nós próprios. Passamos toda ela acumulando conhecimento, lendo, riscando, arquivando, confabulando; uns guardam dinheiro(ainda não aprendi esta fantástica manobra; alias, desaprendi, quando ganhava menos, guardava mais...).Por isso me pergunto se a vida deve ser levada tão a sério, sempre.
Devia ter mandado mais gente à merda, ter dito mais nãos.
Afinal, não tem uma coisa certa, uma forma certa de viver as coisas; porque tentar se igualar aos outros nessa loucura da sociedade? Em que todos buscam ter sucesso e ambicionam coisas materiais. EU, cada vez mais, tenho mais preguiça de ter mais e percebo que um dia, que talvez não demore muito, mande tudo às favas e vá morar na árvore, encontrar uma Xita e quem sabe até um Tarzã. Por que afinal, se pendurar de galho em galho é o que vale na vida ainda né??? Porque depois, afinal, tudo se resume em: do pó ao pó.
Haha
* Nossa como estou cética hoje!

segunda-feira, 14 de abril de 2008

À la recherche du temps perdu


A vida pode ser simples. Nada como sentir a salmoura do mar no corpo,deixar esta ser absorvida pelo sol ao secar num deque de madeira; nadar, ver estrelas do mar, peixes-agulha,coqueiros, palmeiras, limoeiros; gaviões mergulhando e voltando do mar com suas presas, aranhas fazendo tramas no açúcar que pinga da caipirinha;deixar o lápis pastel deslizar pelas montanhas que conversam, no papel, com o mar; besuntar-me de proteror solar; afinal já passei há tempos da adolescência e o suficiente de sol tomei; troquei o "Rayito de Sol" pelo creme FPS 60!
Menos pode ser mais; muitas "
congestões" de tanto rir com os bons amigos, engolir água do mar, tomar uma ducha gelada e esquentar-me ao sol; cortar a sola do pé ao pisar na ostra.... nadar com o cão que é um fiel companheiro desde à praia até a bóia na ponta da ilha; ficar dois dias com quase nenhuma roupa e nenhum sapato;ir correndo para o chalé pois o gerador vai desligar-se (tenho que escovar os dentes ainda!) , ler na cama à luz de vela;comer sanduíche na estrada e suco de laranja e, de sobremesa a deliciosa bananinha cascão. O ar puro fresco com cheiro de maresia. O odor da chuva caindo no mato, o robalo, o pudim, o pavê de abacaxi, o risoto de camarão, as caipirinhas, o pé de pato e a máscara de mergulhar;
Ir com o
Philip Roth e voltar com o Proust. Ir à procura de um eixo e voltar encontrada comigo mesma. Ir esbaforida, sem tempo e lá, reencontrá-lo.
Obirgada natureza, obrigada amigos.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Bifurcações e Encruzilhadas









É a semana foi intensa, principalmente tensa, uns problemas para resolver, mas as amarras estão se desamarrando e as coisas vão-se dissolvendo e se descomplicando. A estradas se complicaram, no início da semana, pareciam estreitas, mas finalmente algumas bifurcações apareceram...A vida capitalista em sociedade, na cidade, especialmente na de São Paulo, pode ser corrosiva, além da simples exaustão. A cidade nos suga. Ufa ! Estou indo amanhã atrás de novos horizontes, pé na estrada, ON THE ROAD, porque como já enunciava o filme a vida deve ser Easy Rider..... não, não vou de moto, não se preocupem, nenhuma garupa enlouquecida me carregará(se bem que seria delicioso aquele vento batendo na cara, fazendo acordar e ter ciência.....),vou de carro pela estrada de Santos, hehe. Será??
Vou fazer uma REHAB, exatamente, me desintoxicar dos faróis, das buzinas, da poluição que invade minhas narinas, da pessoas que nos machucam sem perceber, do motorista que nos buzina histericamente, do pedestre que nos esbarra; uma reabilitação da falta do "bicho-bom" que todos nós somos. Chega destes seres belicosos!
Espero não voltar uma macaca, mas com certeza voltarei mais 'en-naturada'. O destino é certo: O MAR. Preciso de horizontes para desenhar. Desenhar e não escrever por poucos dias ... Mereço, um hiato no caos. Pausa. Inspiro.
Ah, o título desta tecitura veio da boa exposição que tive a oportunidade de ir hoje com alunos na Galeria Vermelho, de Carla Zaccagnini, inspirou-me. De onde também vem as imagens (origamis feitos com rótulos de cervejas); recomendo, confiram! Até dia 26 de Abril na Galeria Vermelho.Foram os tais caminhos que se abriram. Ainda bem!
À vida, que deve ser sorvida como uma boa cerveja e, como já disse a turma do Superflex "Free Beer" e eu acrescento: For alllll!
Arrivederti e asta la vista beibes!

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Das pessoas que se tornam desenhos animados


Um texto meu do ano passado:

Das pessoas que se tornam desenhos animados-

Nesta semana resolvi escrever sobre o SER humano. E a personagem oposta que é o desenho animado. Oposto, replicante.

Escrevo para você leitor.

O ser hoje na sua natureza íntima, pela e na sua essência, na sua “absolutência”, nas suas perfeições e imperfeições, age e RESPONDE por ela, de cabeça erguida, olho-no-olho; não pelas costas. SER exige o pensar; o boneco/ brinquedo, por outro lado, distraí, desvia-se de si, cabe à esfera do divertimento, da distração.

Quero pessoas que sejam e não que me distraíam de si mesmas; se auto-sabotando, se auto corruptindo.

Pedir demais.

Play- mobil.

O desenho animado é uma tentativa de representação na forma de uma distração. É a onomatopéia de uma pessoa, de uma coragem, de uma verdade. É um ato fraco, frouxo; dois passos, ou mais, um pular, um virar, um dobrar-se sobre si mesmo e cair no buraco

PLACT. PLUFT

ZUM, ZAZ TRAS

Não quero animações, não quero replicantes. Simulações

Não quero personagens e sim pessoas.

A tentativa em vão que alguns têm de sê-lo

A falácia desta tentativa.

Pessoas grandes que, em atitudes minúsculas, quase “playmobilescas” enroscam-se em suas próprias pernas, encenam atitudes que todos vêem e crêem que são em vão. Despercebidas.

Nosso repertório é o das imagens somadas às ações responsáveis, quase sempre coniventes a atitudes de falas que se responsabilizam por tais.
Quais?

Você, leitor, sabe quais?
Sabe o que diz e pelo o que se responsabiliza? A quem afeta espraiando sua voz e verdade através de seus atos e gestos?

Não seja ‘brega. ’. É esta a palavra. Não tenha a pretensão de ser luxuoso ou requintado. Olhe na cara olho no olho; responsabilize-se por suas atitudes. De ser humano.

Estamos cansados de covardes. Não se auto- sabote. Isto é corrupção. Da mais vil

Corruptar-se.

Apenas acredito em atitudes responsáveis.

O tão pouco é sempre tão simples e o melhor a fazer, por si e pelos outros

De que vale a vida em puro narcisicismo, egoísmo. EGO

Você sabe o que é ser humano? E exercer este dom?

Haja, faça, movimente-se

O boneco só o faz regido, orquestrado por uma força maior

Tal como uma marionete.

Da vida das marionetes

Sei pouco. Quero o toque, o beijo, a saliva; o falar, o sentir

O atuar

O ser-se

Quais são suas personagens?

Afinal, qual a sua identidade?

Coragem. Faça o movimento certo. Expresse seu ser, sua temperatura.

Fiquem com seus ipods, uploads, downloads, ejects e copy’s pastes.

Dêem-me um ser humano.

Ele existe, ainda?

Desprezo.


*Desculpem o niilismo do texto da semana...

Setembro 2007.

Tropa de Elite


Mais um texto meu de filme do ano passado:

Fui ver o filme tão alardeado "Tropa de Elite". Um soco no estômago, ou melhor, um soco na cara com direito a saco plástico...

Saí com os ouvidos retumbando ao som de disparos de fuzis, pistolas automáticas e granadas.

O cenário mais parecia o de uma guerra e não como é na realidade: favelas nos morros cariocas. Como uma personagem diz certa hora do filme “O BOPE tem treinamento de guerra, em nenhum país a polícia tem treinamento de guerra, apenas a polícia do Rio de Janeiro tem".

Mas para que e por quê?

O BOPE (Batalhão de operações Especiais da PM do RJ) possui alto nível de excelência, empregando recursos táticos inteligentes, trabalhando quietamente para não levantar alertas, sendo empregada em operações de alto risco em que a força da Polícia Militar regular não seria de efeito. Especializada em incursões, patrulhas e combate ao crime em favelas, faz uso constante de armamentos muitas vezes restritos às Forças Armadas Brasileiras,

Para enfrentar aqueles sujeitos que vivem na orla do chamado "Mainstream", os abastados, pobres, sem direito à moradia e esgoto. Sem direito à cidadania. Mas a conclusão a que cheguei é que o BOPE, a tropa de elite que deveria servir à população, manter a segurança, nos proteger, manter a ordem do Sistema (termo este muito usado no filme); tem hoje suas funções distorcidas, pois vive e existe para manter a ordem no morro dos traficantes que, na verdade traficam drogas ilícitas para uma clientela que vive na zona sul carioca com vista para a praia do Leblon, que assiste a mesma favela desfilar 'bunita' em seu televisor de plasma na novela das oito e acha tudo com muita "Catiguria".

Tudo faz parte de um grande Círculo Vicioso: a polícia que deveria servir ao pobre e ao rico põe panos quentes no traficante pobre que vive na favela e mantém o "baseadinho" e o "tapinha na branca" do rico. E nada pode parar esta estorinha. Mas a polícia não deve exterminar e sim manter a disciplina e a ordem de um sistema vigente. Mas, ao que parece o nosso sistema aqui no Brasil esta falido, se autodestruiu.

Mas para tanto crianças, adultos, mulheres, pobres e ricos são mortos diariamente numa guerra civil.

"Não se faz passeata pela morte de um policial, apenas pela de um burguês rico morto”; outra frase memorável do filme.

Aqui no Brasil vivemos assim, sempre que ocorre um acidente aéreo ou filhos das chamadas classes A e B são mortos em assaltos ou acidentes ocorrem manifestações onde deveria haver uma verdadeira vontade política de cobrança de ética e atitudes governamentais. Mas nós não cobramos e não nos mexemos. Ficamos inertes. Passeatas não resolvem. Paternalismos e pena das 'criancinhas pobres' nos faróis e nas favelas em atitudes que redimam nossa culpa e apenas isto também não. Se a filantropia resolvesse algo o Brasil não estaria do jeito que esta. “Irmos para o céu" não tem nada a ver com resolver nossa situação no aqui e agora.

O filme acaba e percebemos que não sabemos por quem ‘torcer’ Quem é o herói do filme? A polícia corrupta, a justa, o burguês que consome, o traficante que sobrevive?

Quem é o bem, quem é o mal?

"O BOPE veste preto...", como diz o coronel Nascimento “... porque mata e enterra pessoas quando sobe nos morros"

Seriam eles os novos guerreiros medievais que conversam com a morte numa nova versão bergniana de "O sétimo Selo"? O jogo de xadrez é agora real, nas nossas ruas, na nossa cara, nas nossas cidades

O BOPE talvez seja o novo soldado mercenário. E o ser humano do século XXI seu alvo.

Para que serve a polícia hoje?

O que é a cidadania hoje?

Qual o valor da vida hoje?

A única conclusão a que cheguei é que se faz inevitável a seguinte discussão: não é mais que a hora de pensarmos na descriminalização das drogas? Não seria esta a única maneira de interromper com este ciclo infindável? O governo ganharia com a taxação de impostos, o tráfico acabaria.

Na verdade a hipocrisia acabaria. Pois alguém pode me dizer por que todo mundo pode ficar bêbado e isto é visto como uma atitude 'normal' mas ninguém pode fumar “um baseadinho"? A palhaçada do papo "esta ou aquela droga faz mais ou menos mal" acabaria e tudo ficaria num mesmo patamar...

O cenário é este.

E neste momento percebemos que somos personagens do filme também e fazemos parte desta engrenagem que faz este ciclo girara e girar infinitamente.

Somos personagens impotentes que até o presente momento nada fizeram para fazer esta geringonça parar de girar. Fazer este filme parar de ser a realidade e tornar-se apenas uma ficção. Devemos parar. Cortar. Editar e remontar esta realidade.

Vejo nós todos tal como o Aspirante Mathias em cena do filme:

com a granada na mão prestes a explodir e sem poder se mexer.

Enquanto escrevo este artigo com certeza centenas de tiros de fuzis rasparam por muitas cabeças

Vejam o filme

Precisamos de uma Estratégia

Urgentemente.

Silêncio

DANIELLA SAMAD

11/10/2007

Cheiro do Ralo


Este também tem uma certa idade, escrevi ano passado ao assistir o filme "O Cheiro do Ralo". Não podia deixar este texto escoar ralo abaixo....

Hoje vou deixar minha poesia “pérfida” fluir, muito bem inspirada pelo filme “O Cheiro do Ralo”, ainda em cartaz no circuito paulistano.

BUNDA

RALO

OLHO

OLHO DA BUNDA.

OLHO DO CU

Muitas coisas me vieram à cabeça. George Bataille e sua "História do Olho", Augusto do Anjos e sua poesia escatológica.O olho é o que olha mas também é por onde saí tudo. Canal. Víscera. O ciclo se fecha, como no filme. Somos feitos de buracos, entradas e saídas. Constatamos que somos canos, canais por onde nossos líquidos passeiam. A música "Bichos escrotos saiam dos esgotos". Dá-lhe Titãs, dá-lhe David Cronenberg. A Mosca; ou tantos outros do mesmo. Greenaway, "O cozinheiro, a amante". Fedemos e devoramos a nós mesmos. Coisificamo-nos. A bunda é um objeto que ele compra a mulher, o homem como objetos antigos. Objetos empoeirados nas estantes. Peças vintage, apenas para nosso bel olhar. O Olho que a tudo vê tudo come tudo toca. E o homem: delicia-se e embeveda-se com o cheiro vil de seus próprios líquidos e fedores. Temos mesmo que ir de encontro as nossas profundezas e nos revirar para nos refazermos do amor, da vida, da vida dura, dolorida, caótica e escatológica. O dinheiro impera.

O toque falta.

O cheiro espalha-se.

Barata.

Kafka.

Falta ar.

O fedor corre nas veias. Morte. O cheiro que envenena.

Polui. Infla.

Jorra esporra. Canibais. Antropofagia.

Burlesco este filme. Mas como ele mesmo diz, a vida é dura.

BUNDA

Daniella Samad, 2007.

O Cheiro do Ralo, Brasil, 2006, 95 min. Direção de Heitor Dhalia.

www.ocheirodoralo.com.br

Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças



Este texto já foi escrito há quase 4 anos, mas decidi posta-lo pois gosto muito. Enjoy it!

“Feliz é o destino da inocente vestal

Esquecida pelo mundo que ela esqueceu

Brilho eterno da mente sem lembrança”.

Alexander Pope (1688-1744), no poema “Eloísa to Abelard” de 366 versos.

“Abençoados os que esquecem, porque aproveitam ate mesmo seus equívocos”

(Friedrich Nietzsche (1844-1900)).

Fui ver este filme, é fantástico! Afinal, trata-se de uma história de amor, e da memória que temos do amor. Os protagonistas querem esquecer-se um do outro. E esquecem-se. Mas e nós? Como ficamos em meio a este esquecimento todo?

O que é o esquecimento? O que é a memória? Podemos apagar nossos atos passados? Nossas vivências, experiências, amadurecências? De início o personagem vivido por Jim Carrey parece-nos meio esquisito, esquizofrênico eu diria...Mas em meio ao transcorrer do filme percebemos que sua namorada também o é...,Ou melhor, já era antes dele... Percebemos que todos nós já vivemos situações afetivas, relacionamentos amorosos que quisermos deletar. No momento que os encerramos queríamos, por um instante, não ter vivido estes...queríamos ter apagado este momentos, estas vivências, tornando-as espaços entre, espaços ocos, espaços nulos, não memórias, não lembranças.......Hiatos.

A estética do filme lembra Bosch, Dalí e suas muletas e relógios que escorrem...Somos adultos sendo crianças, encolhemos; tal como na terra de Gulliver, nos banhamos em pias, tetos, paredes, muros, pessoas, chãos desaparecem...Novamente, qual o lugar da memória? Em que cantos obscuros de nosso cérebro, de nosso inconsciente ficam as memórias das pessoas que amamos? Onde fica esta caixinha de música? Onde ficam armazenas nossas memórias eletivas?

Lembrei-me do nome da empresa que ‘patrocina’ na mente de ambos este apagamento da pessoa que amam-, chama-se Lacuna Inc. Nome sugestivo. Podemos criar lacunas em nossas cabeças? Esconder para baixo do tapete cerebral pessoas?

O arrependimento deste apagamento bate em certo ponto do filme e tal como num filme policial de perseguição, Carrey foge da máquina que perfura suas memórias querendo-as deleta-las.Procedimento muito comum em nosso mundo contemporâneo. Constantemente nossa mente é lobotomizadas, escaneada e tudo é mandado para o ‘ícone’ Lixeira. O personagem cria subterfúgios para esconder-se dentro de suas próprias lembranças, uma delas é escondendo-se em suas humilhações da infância, quando a amada ainda não existia e, portanto no presente da máquina castradora que escaneia todas as memórias em que esta se via presente não será possível deleta-la, ela a amada e elas as memórias desta.

O tempo da mente é sincrônico, as memórias convivem todas juntas, interpenetrando-se, não seguem uma lógica temporal, mas emocional. Nossa vida real é vivida conscientemente e nossa vida inconsciente é caleidóscopica, cumulativa e pulsante.

Quais são as passagens secretas dentro de nossas cabeças? A lógica parece algo ilógico. Mas odiar no outro aquilo que nos incomoda faz parte de nos percebermos como seres diferentes, que necessitam do diferente para nos desenvolvermos. Isto é a alteridade, a tomada de consciência pela consciência do outro. Mas sem a ciência. E sem a Ciência.

Apenas na morte podemos esquecer quem somos.

Os arquivos passam a ser de fato mortos.

Há metáforas de uma riqueza extenuante neste filme: num dado momento vemos o mar com suas ondas a bater na areia e a neve a cobrir esta.Dois estados de uma coisa só convivem, a neve e o mar, o estado liquido e seu estado matérico, a neve. Assim como o inconsciente e o consciente, gelo e água, dois estados de uma mesma coisa, H2O, ou melhor, a MENTE; constante dualidade em simbiose. H2MENTE. Vital, Profunda e superficial.

Julho 2004.

terça-feira, 8 de abril de 2008

No que consiste a coisa


A melhor frase que li na semana, foi, sem dúvida alguma, a de Philip Roth, definindo no que consiste o ato sexual do ponto de vista masculino:"Em que consiste afinal a coisa? A gente enfia o troço num buraco qualquer, mexe para frente e para trás e o negócio espirra na ponta."

Tão objetivo e simples, é assim mesmo. Não precisa falar mais nada. Creio que se ele fosse definir " no que consiste a coisa" para a mulher ficaria no mínimo umas três páginas. E não seria "coisa". Hehehehe...
Com certeza seria algo muito mais complexo e intrincado....
Vive lá diference!!!!

Allegro ma non Troppo




Hoje pela manhã, como habitualmente faço após acordar, comer meus cereais com iogurte e ler as tragédias da semana na Folha de São Paulo, fui passear com o Chico (meu Duschund de 5 anos),na boa e velha pracinha da rua sem saída aqui do lado de casa.

Chegando lá encontrei um muito do simpático senhor de já seus 70 e muitos anos muito do distinto (ele sempre usa roupas “ton sur ton” , esta sempre alinhadíssimo ), e leva seu cãozinho schnauzer chamado nada menos que Beethoven para passear. Gosto muito de encontrá-lo, e travar conversas matinais descompromissadas... nada como um amigo mais sábio, vivido, distinto e quer saber, se eu tivesse muitos aninhos a mais o paqueraria, ,,,,mas não lembro de seu nome. Ele é síndico do prédio ao lado do Shopping Iguatemi, engenheiro e deve ser aposentado. Ambos moramos perto deste; e sempre papeamos a respeito da tentativa de construção que estão fazendo num terreno que aparentemente esta numa área morta do Shopping, de um prédio para mais 600 vagas de estacionamento; o que acarretaria no bloqueio da vista e de sol de alguns andares do prédio em que o “Senhor-pai-do-Beethoven vive”. É a famosa falta de planejamento urbano que vivemos aqui em SP, onde tudo pode ser comprado, erguido e construído seguindo nada menos que nenhuma lei de planejamento e respeito social ao ser humano que vive nesta cidade. Uma verdadeira Lei de “Deus-dará” !

Mon dieu, em que lugar vamos chegar?? A rua não da conta mais do trafego de carros que lá já existe em função da peruagem que frequenta este shopping em seus mega jipes 4x4 que mais parecem caminhões. Tudo para poderem confortavelmente comprar seus jeans de 1.500 reais....

Por que mais estacionamento? Para que mais carros? Já sabemos que a cidade caminha para um colapso, para uma paralisia total; e continuar a criar estacionamentos que nada mais fazem do que encher de dinheiro os bolsos de “Jereissatis”, e outros nada muito idôneos donos de shoppings centers. Como já foi dito: “Money makes the world goes around”. Liza Minelli, muito sábia, já cantava isto nos idos dos anos 70. E nada mudou,,,,bom, dinheiro e sexo,fazem o mundo girar e girar, como bem sabemos pelos recentes escândalos vindos de nossos amigos da terrinha do Tio Sam,....afinal, tudo se resume em PODER. Poder e mais poder, ganância.

A obra esta embargada,of course! Afinal é chique fazer um charme,,,, claro que daqui a pouco o mega- almofadinha advogado que defende os interesses dos logistas e proprietarios do Shopping irão comprar o juiz e outros envolvidos nesta história, fiscais serão cooptados e mais um prédio de estilo arquitetônico “ decô –eclético- kitsch qualquer- coisa –medonho” se erguerá numa ruinha localizada ao lado do clube Pinheiros e Hebraica.

Oh Shit!!!

Bom, neste momento nossa conversa teve que se interromper, o Chico queria ir embora da Praça assim como Beethoven. Aí notei que havia algo de errado na ‘estampa’ do “pai do Beethoven”, ele estava com um boné, azul, surrado, estranho, nada ornando com a camisa beige e a calça dois tons abaixo e os mocassinos italianos.

Um boné escrito “Harvard”. Foi brochante. Até Chanel surtaria ! Mas tudo bem, dei um desconto, descompasso na composição total, uma vez na vida.... e afinal quem sou que leva seu cãozinho para passear com a velha calça jeans surrada, um par de boas e velhas havaianas verdes já gastas e a a primeira camisa usada do dia anterior?? Perdoei o “Pai-do-Beethoven”.

Afinal ele cuida da vida de um dos maiores compositores de música clássica que já tivemos.

Voltei para casa e enfurecidamente na minha velha pilha de elepês escarafunchei e encontrei: levantei a tampa da minha vitrola gradiente herdada do já findo casamento de meus pais e ouvi:

A nona de Beethoven. Divina.

Aliás, recomendo.

  • também recomendo a fantástica interpretação de “Money makes the World goes around” do filme “Cabaret” com Liza Minnelli e Joel Grey, é só entrar no link http://www.youtube.com/watch?v=vffQGl6Vo3I

Pudim Arte Brasileira







Fuçando aqui em minhas gavetas encontrei uma ótima receita, nenhuma daquelas da Nigella, nem do inglês Oliver nem do francês abrasileirado Olivier, mas da artista plástica Regina Silveira, e nada como unir o útil ao agradável, ou seja, arte e comida. Aqui vai na versão original de 1977:

Pudim Arte Brasileira:

2 Xícaras de olhar retrospectivo

3 Xícaras de ideologia

1 Colher, de sopa, de Ècole de Paris

1 Lata de definição temática, gelada e sem sôro.

1 Pitada de exarcebação de cor

1 Índio, pequeno, ralado

Com o olhar retrospectivo e a ideologia prepare uma calda e quando grossa junte-lhe a Ècole de Paris, sem mexer. em repouso, bata um pouco a definição teática, junte-aos demais ingredientes e leve ao fogo em banho-maria em forma caramelada.
Cobertura para a Arte Brasileira
Misture 1.1/2 Xicara de função social com 5 colheres, de sopa, de vitalidade formal e leve ao fogo brando até dourar; retire do fogo, junte mais 2 colheres, de sopa, de jogos mercadológicos e sacuda um pouco a frigideira para misturar muito bem; não se deve mexer c/ a colher.
Deixe esfriar, cubra o pudim e sirva gelado.

Regina Silveira.
Publicado em: Revista Qorpo Estranho, 1977

segunda-feira, 7 de abril de 2008

Nowhere Land


Sometimes lovers

Sometives friends


A vida tem sido assim ultimamente, no big deal; poucas moedas no bolso e poucos amores pulsando na veia. Anseio por transformações. Ando meia 'desligada'.....com preguiça de mim mesma, longos silêncios comigo mesma e mais preguiça ainda de conhecer 'gente nova e me fazer 'ser conhecida'....acho que fui entendida ??
Por onde andam as pessoas que gostam de achar tesouros, escarafunchar na ruas, nos supermercados, nos faróis, na padaria, por outras? Encontros acidentais só tem acontecido com o porteiro do prédio, o
faxineiro do outro que encontro lavando a rua enquanto me inclino para catar 'a sujeira' de meu cão produz nas ruas fétidas paulistanas...o frentista do posto de gasolina enquanto enche o tanque de minha scooter ou calibra o pneu, me conta de sua vida, da mulher do shopping que paquera.
Mas estas são sempre afinal, as pessoas que valem, os
papos que enriquecem e engrandecem, palavras descontraídas travadas com pessoas ainda mais desconhecidas entre a correria de uma aula e o hiato de outra. São as pessoas que não sabemos quem são, que esbarramos e nem olhamos na cara para pedir desculpas; mas são afinal, "gente como a gente".
Aquelas que conheço e são amigas de longa data, delas quero férias no momento. Estou curtindo, pelo momento, os
anônimos, os não-amigos, os não-familiares....
Será alergia?? Ou alegria mesmo??
Compartilho com elas, suas verdades simples, estes seres não são mais
invisíveis; não mais transpasso por eles. Quero sentir seus mundos, conhecer a vida (que parece mais simples que a minha, serena, sem problemas); deslocar-me de mim mesma. Como diz a música dos Beatles interesso-me atualmente pelo 'nowhere man', que ainda esta, diz é ele , mas somos nós, também.
Dêem-me seus mundos, suas rotinas, suas verdades, seus
fluíres. Quero poder ler este mundo, mas no cotidiano, não mais apenas nos livros.
Agora vou dormir e ler,
Philip Roth e seu "Complexo de Portnoy" me esperam. Leio esquentando meu pé na pelagem macia do Chico. Meu companheiro fiel e silecios0 (mentira, ele late muito) de já duradouros seis anos.
Fico aqui fazendo meus
nowhere plans for no one.