sexta-feira, 15 de agosto de 2008

A Nova Olímpia




Originalmente os Jogos Olímpicos nasceram em pleno século V a. C., na Grécia , aquela de Homero; constituiram-se como uma importante celebração e tributo aos deuses. A origem dos Jogos Olímpicos na Grécia Antiga é frequentemente associada à celebração do esporte e do culto à beleza estética humana, como se estes fossem seus objetivos principais.

Tudo era espelhado em cânons de beleza áurea, harmonia, simetria e racionalismo. Foi lá que os Renascentistas beberam, depois os Neoclássicos no século XVIII e, hoje a kitsch e mau utilizada arquitetura de decoração de interiores-novo-rica paulista.

Na cidade de Olímpia havia um templo de dimensões magníficas, dedicado a Zeus. Este Zeus era o chamado Zeus Olímpico, e junto a seu templo se realizavam os jogos esportivos idênticos aos das outras cidades. Porém era em Olímpia que os jogos atingiam sua plenitude, em organização e número de participantes, e onde desenvolveram-se como competições regulares e de extrema importância para todos os helênicos – e eram chamados Jogos Olímpicos.

A Olímpia do século XXI é hoje, feita de paredes de água e também de palhas do ninho. Em 2001, com a queda das Torres, foi decretada a falência da arquiteta sólida da argamassa aparente de concreto gótica - agulhada que acima de tudo e todos parecia querer sobrepor-se.

Agora, os arquitetos buscam na organicidade a celebração da potência humana, cada vez mais otimizada em músculos hiper- inflados, maiôs com tecnologia que imitam a pele de tubarões,etc..

Nos jogos olímpicos atuais, a arquitetura quer ser orgânica, podemos ver isto no centro de competições aquáticas, o chamado “Water Cube” ou ainda no “Estádio Nacional”, popularmente conhecido como “Ninho do pássaro”. O Homem-atleta almeja ser cada vez mais superlativo; tornar-se mais máquina, mais veloz, mais aerodinâmico, mais forte e concomitantemente a arquitetura - arte de erigir e edificar ou de projetar e traçar planos mais fluída, com suas formas clássicas dissolvendo-se. É a consagração da desmaterialização da arquitetura.

As paredes inspiram-se em bolhas de água, o uso e utilização da água é totalmente reciclável, a energia captada por células foto- sensíveis torna todo o Cubo auto-suficiente.

No Ninho do pássaro,fícamos sempre a espera de uma gigante ave que ali poderá pousar a qualquer momento à cata de seus filhotes e nos garfar.....

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Embutir-se


Ela acordou com um tersol do tamanho de um asteróide no olho. Saiu para passear com o cão e pisou num coco de outro. A reunião que tinha marcada para depois do almoço foi cancelada.Saiu na rua e caiu coco de passarinho na sua bochecha.

Mon dieu!!!!

Quem mandou uruca-pensou ela. Melhor não ter acordado? Melhor não ter saído de casa? Melhor não ter vivido?

Ela estava cansada das pessoas, se entediava com os homens que a paqueravam e aqueles outros com os quais relacionava-se; o papo já não tinha graça e descobria que viver sem sexo podia ser algo viável após conversar com uma colega que já tinha desistido deste há algum tempo e, como ela tinha preferido diluir-se nos livros e seus meandros ou nos ótimos filmes da televisão a cabo.

Neste final de semana ela se esbugalhou em lágrimas vendo um então jovem Dustin Hoffman e seu pequenino filho perceberem que podiam viver sem ‘a mãe’ no já cult “Kramer X Kramer” ; ou então uma Shirley Mac Laine que nos já idos anos 70 tinha que lidar com a ‘moderna’ cabeça dos homens (entenda-se por este Jack Nicholson), que não querem assumir compromissos, enquanto ela, sozinha vê sua filha definhar pelo câncer em “Laços de Ternura”.

Ela chorou e chorou. Não sabia mais se chorava pelas lágrimas de Dustin, de Shirley ou pelas suas mesmo.

Estava cansada da batalha diária, do ter que matar leões e dragões, pagar contas, pegar trânsito, procurar ‘aquele’ homem que resolveria sua atual solteirice.

Afinal resolver o que? Não havia nada para ser resolvido, não existiam problemas, portanto não haviam soluções para buscar;nada para ser purgado.

Mas como bem havia dito um amigo seu: “Quando a gente se cansa é bom sinal, podemos operar mudanças em nossas vidas”...será?- Ela arguiu para si mesma.

Mas, aí que preguiça...de querer mudar o mundo dentro de si mesma.

Viu-se como a personagem de Chabrol (outro filme do então "filmíco" final de semana que havia tido), em “Uma garota dividida em dois”:a lâmina que a cortava,pungindo-a, distonando e entonando-a.

Tudo a levava para longe da vida dos ‘normais’, dos casados, com filhos, com namorados, da vida comportada.

Não era isso que ela buscava agora e nunca havia sido , "aí que chatice"- pensou.

Que vontade de ir para o Camboja de moto. Easy Ryder. Sozinha, sentindo o vento lambendo sua face...

Melhor comprar a passagem de avião,mas não tinha dinheiro.

Melhor ficar quieta na sua com seus novos livros que comprou.

Embutir-se.

Encolher-se tal como "Alice no País das Maravilhas" (aliás, por onde andam vocês maravilhas? - novamente pensou ela com seus botões),tomar a poção mágica e Pá- Pum: Arrivederti !

Me esqueçam por um tempo - ela pensou ."Estou de férias de você, mundo e de vocês, pessoas"- disse em voz alta,querendo convencer-se.

"Por favor, não disturbam."

Foi para o Camboja, com o Proust e a Sontag debaixo

dos braços.