segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Vicky Cristina Londres....


Todo mundo tem comentado comigo que adorou o filme, que ele é leve, divertido.

Mas eu não gostei.

Achei tão morninho. Um romance alternativo americaninho qualquer é a mesma coisa.


Adoro Woody Allen mas, apesar da linda fotografia, apesar dos lindos travellings a la Hitchcock, apesar do lindo elenco, apesar do Javier Bardem, aí, aií....apesar de Gaudí, apesar de Miró, apesar das lindas locações, e apesar da ótima trilha sonora e do violão de Pacco de Lucia, o filme não decola.

Onde esta o bom e velho humor irônico de Allen?

Onde esta a tragicomédia?

O filme não tem punch, o rítmo engasga; peguei-me olhando no relógio vários momentos.

Onde está o bom roteiro dos tão ótimos “Match Point, “O sonho de Cassandra”, “Tudo o que você queria sabe sobre sexo mas tinha medo de perguntar”; os amores de “Hanna e suas imrãs”? Onde esta a ironia judaica? Onde esta o meu esborrachar-me de rir ? Onde esta a trama inteligente e rápida?


Allen, ficou comum; até o central triângulo amoroso torna-se morno apesar do sex appeal de Barden e Cruz.

O beijo “gay’ que acontece entre Cruz e aquela loira sem graça- que acha que é a reeencarnação da Marylin Monroe- a tal da Scarlett (que não tem um décimo da força da mesma personagem de "O vento Levou..."), é uma vergonha de dar dó....aliás, Allen, deve ser por isso que ela é sua nova atriz-ícone, é gelada que só ela! E ainda por cima anda com os pés virados para dentro, prestem atenção quando Allen foca em seu andar...tadinha nem as botinhas ortopédicas a moça usou...

Bom, voltando do meu devaneio,,,,


Almodóvar já fimou isto tão melhor. Allen deve deter-se à Inglaterra, seu filme em solo espanhol não tem nada de caliente. Penelope Cruz é uma péssima histérica que até Freud riria.

Deveria ser Vicky Cristina, Londres.

O Fog lhe combinaria melhor.

Deixem Bardem e Cruz nas mãos de Almodóvar e dos irmãos Cohen que estes os sabem aproveitar.

Allen não tem ginga, não sabe bailar o flamenco

Volte aos pubs londrinos e ao tipos americanos, estes você sabe filmar muito bem !
Ou coma muita paella!

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Los Dardenne



Algo de novo desponta no novo cinema Belga.

Vi neste final de semana o excelente filme
“O Silêncio de Lorna” , de Luc Dardenne e Jean-Pierre Dardenne, ou mais comumente conhecidos como os irmãos Dardenne. Creio que estes ficarão na história como os também ótimos irmãos Tavianni e os Cohen.

Lorna (Arta Dobroshi), deseja se tornar sócia em uma lanchonete, juntamente com seu namorado belga. Para tanto ela aceita se casar com Claudy (Jérémie Renier), apenas para assim adquirir a nacionalidade belga. Após algum tempo ela é obrigada a mais uma vez se casar, desta vez com um mafioso russo, para obter sua cidadania. Só que, para que este novo casamento seja possível, Lorna precisa antes matar Claudy.

Ano passado vi da mesma dupla “A criança”.

Ambos filmes estão inseridos no debate dos novos paradigmas urbano-sociais. Tratam das relações humanas, do urbano, das novas tragédias sociais: imigração, aborto, paternidade,tráfico de crianças, vistos,e o dinheiro, sempre o dinheiro!
Infatigável preocupação do ser humano de ter uma identidade, uma nacionalidade. Neste que vi ontem, a questão dos chamados “green cards”, a obtenção da nacionalidade, em questão, a belga. Lorna é aquela que busca e alcança esta nacionalidade e também serve como moeda de troca para outros a obterem. As línguas faladas no filme anternam-se entre o francês (belga) e o albanês. Muito bom ver produções em que o inglês não é mais a língua central. O novo e inteligente filme trata dos cidadãos da Europa central e sua busca incansável de obter direitos igualitários para tornarem-se cidadãos de outros países.
Talvez este seja um tema central a ser tratado pelos governantes atuais, entre eles,Obama, visto que ele, em sua condição negra e de ‘linhagem’ africana deve ter tido pais que passaram pelos mesmos ‘entraves’ imigratórios....
Estes seres humanos querem poder ter o direito a tornarem-se cidadãos europeus. Fugir de seus países dilacerados pelas guerras civis.

No outro excelente filme da mesma dupla, que tive a oportunidad de ver ano passado no Cinesesc, o mesmo ator loiro, também presente em “Lorna’ como o marido junkie, era o pai de um bebê, e via-se metido na venda e tráfico de crianças Lá o bebe era O estorvo, a morte,e aqui, em Lorna, este a ‘salva’ . Lorna salva-se pela sua ‘gravidez’. salva-se por descobrir algum vinculo no mundo cão em que vive; onde as pessoas são sempre peças de um jogo de "War" e usadas como utensílios descartáveis.

Os Dardenne conseguem criar como ninguém um diálogo contemporâneoa entre seus filmes; estando sempre na linha de ponto das questões pulsantes do nosso louco e descriminatório mundinho cão. Este ganhou o prêmio em Cannes pelo seu excelente roteiro.
Arta,a iniciante atriz albansesa, é ótima, seus traços em muito me lembraram uma jovem Isabelle Adjani. O filme tem ‘punch’, a montagem é dinâmica e pulsante e nos deixa cativos desta frenética história.

Recomendo também o excelente
"A Criança", de 2005, em que Sonia (Débora François) é uma jovem de 18 anos, que acabou de dar à luz a um menino. Bruno (Jérémie Renier), o pai, com 20 anos de idade vive de pequenos roubos cometidos por ele e seus comparsas adolescentes. Os dois vêem de maneira bem diferente o significado da chegada desta criança, sendo que os atos de Bruno em relação ao filho colocarão o casal diante de sérios dilemas sobre suas existências.
Foi o ganhados da palma de ouro de canes neste mesmo ano

Há ainda o primeiro filme da dupla, que ainda não vi, mas que também deve seguir a ótima linhagem, chama-se
"Rosetta", de 1999.
Vou á caça na videolocadora....e viva a Bélgica!

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

OBAMA


Obama chegou lá

Luther Kink deve estar feliz no túmulo.

Malcom X apercebeu-se que discursar tanto em praça pública valeu a pena.

Michael Jackson deve estar envergonhado de ter-se desbotado.

Billie Holiday não mais choraminga sozinha defronte à “Blue Moon”

Nina Simone ergue várias taças, brindando-o

Pelé faz um gol

Gilberto Gil congratula-se de um dia ter estado ali, no poder

Daiane dos Santos faz um duplo mortal carpado

Stevie Wonder encherga luz ao fim do túnel

Mandela já pode deixar a terra feliz de um de seus ter chegado mais longe que ele

Ray Charles compõe um novo som

Todos sorriem

Obama esta lá. Obama sorri.

De alto do pódio. Agora, não mais contra. Mas ,no poder. Espero que a luz esteja nas suas mãos e os EUA possam ser um país com menos segregação racial e impecilhos aos imigrantes e tudo o mais que seu plano de governo propõe. E que o mundo beba do mesmo vinho.


Que a escravidão extinga-se no mundo

Parabéns aos negros.

Parabéns África

E ainda por cima o cara é um ‘negro gato de arrepiar”, espero que da melhor estirpe


Habemos Obama!

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Veneza, novamente


Acabei de ler o romance "A Morte em Veneza".
Há pouco fiz aqui um texto sobre o filme de Luchino Visconti, de mesmo título.
O filme não perde para o livro e vice-versa. É raro isto acontecer; lembro-me assim rapidamente da adaptação cinematográfica do também excelente "O Nome da Rosa" de Umberto Eco.
As palavras de Thomas Mann tomam formas corpóreas no filme de Visconti. As roupas são aquelas mesmas vistas no filme,o cenário é aquele, os sentimentos são aqueles, o arrebatamento do belo é aquele de Visconti. Bom, sou suspeita, pois Visconti é um de meus preferidos; e agora, Mann também o é.
Suas palavras deslizam em paisagens que são as de Visconti. Aschenbach vai a Veneza sedento para a distância,com saudade para a distância e para a novidade. Ele quer isolar-se do mundo civilizado, do trabalho e da rotina. Mas não esperava enamorar-se pelo belo; vai em busca da solidão
Aschenbach morre contamplando o belo. Quem pode querer mais do que isso? Deitado num fim de tarde, observando a praia calma, o suave ronronar das ondas no mar,num por de sol, envenenar-se e esvair-se na contemplação do sublime e inalcansável.

Agora vou-me dedicar a outro Mann, "A Montanha Mágica". Tantas vezes começado e nunca adiante. Espero surpreender-me novamente.

Da Vida e Morte das Marionetes


Neste final de semana tive a oportunidade de ver o ótimo “Da vida das Marionetes” de Ingmar Bergman. Trata-se de um filme dos anos 80 em que questões básicas do ser humano são colocadas em questão. Como em seu fantástico “Sétimo Selo” em que o homem joga xadrez com a morte, este de 1956, aqui esta também se faz muito presente, tal como uma personagem.

Em “Marionetes” um casal em crise é o ponto central; Peter e Katarina. Peter vai ao psicanalista, pois sonha que matou a esposa.

Eros e Tanatos, mais uma vez. A atração que temos pela morte. Matamos aquilo que amamos? Ele pensa em matá-la, mas não consegue, acaba por matar uma prostituta; tomando outra pelo objeto de seu amor/ ódio. A catarse realiza-se na morte não deo objeto amado mas de seu espelhamento invertido na sociedade; na puta que não é a mulher ‘pura’.

Katarina tem um amigo gay- TIM, este afirma que fidelidade não existe; se diz “viciado em intimidade, mas o que é a intimidade? É sempre a mesma coisa, o corpo se torna um obstáculo. Depois a alma.

Logo se esta numa confusão de sentimentos, fantasias e acordos.” Ele se olha no espelho e fala do envelhecimento, das rugas, das marcas da vida. Diz “que não entende a preocupação do ser humano com o tempo, porque alguns especialistas dizem que o tempo não existe.Você se transforma nisso. Toda discussão sobre intimidade é um sonho. Brutalidade e obscenidade. Prazer, sexualidade, horror e obscenidade. Ele precisa disso para viver.” Mas será que só ele, na sua condição homossexual ou todos nós também?? “Alguém me matará, mas isto é um pensamento excitante. Há certos poderes que não consigo controlar...Talvez seja este o paradigma entre a morte e a vida. A dor e o prazer, o arquétipo central do ser humano, a vida o trabalho, o sexo, as pílulas, são poderes secretos. Mas será que eles ajudam? Talvez seja este o processo do envelhecimento, a putrefação.’ Chego a conclusão que esta mistura de carne, sangue, nervos e pedaços de ossos contem duas totalmente incompatíveis....duas pessoas incompatíveis . Todos nos somos dois, todos nos somos morte e vida, luxuria e caos.Quando chegamos ao orgasmo nosso nariz esta tanto na merda que quase sufocamos”

Ao fim do filme quando Peter comete o assassinato da prostituta e vai preso, uma voz em off diz: “Só possuímos e temos controle daqueles que matamos....só aquele que se mata tem controle sobre si próprio.”

É isto a vida, pulsão e prazer pela morte também?? Somos então apenas marionetes nas mãos de algo maior ; repetimos padrões, “patterns” comportamentais que oscilam do prazer pela dor e da dor pelo prazer?