segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Feliz Hiato Novo


Ano novo. tudo recomeça....não sei porque mas sempre fico nostálgica e borocochô nesta época do ano. Deve ser a conjunção (astral??) de diversos fatores: meu aniversário que é quase natalino, o natal, o ano novo e este hiato que fica entre as coisas acabadas, ou mal findas do ano, agora já dito passado, para o ano presente. Parece que há no ar uma obrigação de comemorar, de 'ter' que ser feliz, te termos que ansiar por boas cousas vindas, a chamada Esperança, palavra que não gosto muito. Esperar, para uma alma ansiosa é por demais corrosivo. Aíííí, mas que preguiça deste "TER". Prefiro fazer. Mas em épocas de lesera total em que tento retomar o ritmo tão bom de trabalho e otras cositas más que vinham na rebarba do ano findo, melhor ficar quieta na minha. Me dedico aos alunos que aos poucos voltam, e às boas leituras, graças a deus os bons livros sempre me acompanham. Colo abaixo um pequeno e nada prolixo texto publicado hoje no site de José Saramago; identifiquei-me porque "as palavras ditas muito mais que findas, estas ficarão".
Feliz dois mil e nove novo! Axé macacada!
__________________________________

Balanço

Janeiro 5, 2009 by José Saramago

Valeu a pena? Valeram a pena estes comentários, estas opiniões, estas críticas? Ficou o mundo melhor que antes? E eu, como fiquei? Isso esperava? Satisfeito com o trabalho? Responder “sim” a todas estas perguntas, ou a mesmo só a alguma delas, seria a demonstração clara de uma cegueira mental sem desculpa. E responder com um “não” sem excepções, que poderia ser? Excesso de modéstia? De resignação? Ou apenas a consciência de que qualquer obra humana não passa de uma pálida sombra da obra antes sonhada. Conta-se que Miguel Ângelo, quando terminou o Moisés que se encontra em Roma, na igreja de San Pietro in Vincoli, deu uma martelada no joelho da estátua e gritou: “Fala!” Não será preciso dizer que Moisés não falou. Moisés nunca fala. Também o que neste lugar se escreveu ao longo dos últimos meses não contém mais palavras nem mais eloquentes que as que puderam ser escritas, precisamente essas a quem o autor gostaria de pedir, apenas murmurando, “Falem, por favor, digam-me o que são, para que serviram, se para algo foi”. Calam, não respondem. Que fazer, então? Interrogar as palavras é o destino de quem escreve. Um artigo? Uma crónica? Um livro? Pois seja, já sabemos que Moisés não responderá.