Por estes dias terminei de ler dois livros maravilhosos e muito opostos, apesar de similares.....tratam-se de “A eternidade e o desejo", da portuguesa,
No outro livro, é o reencontro da menina que teve sua família assassinada com seu “carrasco”. Anos depois. O livro é curto, tem 80 páginas. Suguei-o numa tacada só, tem um rítmo inebriante, como o outro, porém este é frenético, cheio de dores ,de lembranças da guerra e sem poesia nenhuma. O de Ines, é tão viciante quanto ,porém situado num cenário exótico e sensual. Um nos fala do amor e suas sinestesias num contexto “caliente” dos trópicos e o outro da purgação da dor pelo enamoramento através do carrasco.
Um trecho do de Inês: “Os teus filmes congelam a vida, tanto como as minhas palavras. Eu não posso ver os teus filmes, e tu amas-me em silêncio. Assim duraremos..... No Brasil, território de afetos exacerbados, o que primeiro se aprende é o desprendimento , ou o dom de amar esquecidamente.....quantas pessoas pelas quais me apaixonei consegui amar?”
Agora, um trecho do livro de Baricco: “por mais compreensível que seja a vida, provavelmente nós a cruzamos com o único desejo de retornar ao inferno que nos gerou, e de viver ali, ao lado de quem, uma vez, nos salvou, daquele inferno. Tentou pensar de onde vinha aquela absurda fidelidade ao horror, mas descobriu não ter resposta. Compreendia somente que nada pede mais forte do que o instinto de voltar para lá onde nos despedaçaram, e de repetir aquele instante por anos. Pensando apenas que quem nos salvou uma vez pode depois nos salvar para sempre. Num longo inferno idêntico áquele de onde viemos. Mas inesperadamente clemente. E sem sangue.”
Foi ai que encontrei o ponto de convergência de ambos os livros: ambos falam da dor extrema da perda de seres amados e a volta que sevemos fazer à estes em dado estado da vida. Ou melhor, nunca voltamos à eles porque nunca os abandonamos ou os superamos, eles andam conosco vida adentro, de mãos dadas, e vesti-los, encará-los de frente as vezes é a única maneira de vivermos. Temos de dar às mãos ao feio, ao horror e à dor que nos forjou. Do contrário nunca poderemos seguir adiante. É uma purgação que se faz no dia a dia. A catarse através pelo lado escuro, cego e macabro da vida
De mãos dadas com o desejo e com o horror, cega e eternamente, sem sangue, mas adiante, sempre.
3 comentários:
Meu comentário na verdade não diz respeito a este texto e sim ao seu blog como um todo. Que generosidade a sua de compartilhar seus pareceres (aos quais me identifiquei) sobre as artes! Aliás, estas mídias virtuais proporcionam jogar mensagens engarrafadas em alto mar, sem sabermos quem as receberá.
Enfim, parabéns pelo blog!
P.S. encontrei o blog na comunidade do orkut do Joseph Cornell
André Leite Coelho
Oi André, muito obrigada pelo seu feed-back; muito bom saber que minha mensagem engarrafada caiu nas suas mãos....apareça sempre por aqui, ah me envie um email seu para poder te enviar esta mensagens e outras futuras....obrigada; e até logo mais!
A sim, esqueci de colocar meu e-mail...
andy_leite@yahoo.com.br
obrigado!
André
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