Ontem fui no teatro da FAAP aqui em SP ver a excelente montagem de “Hamlet”, de William Shakespeare, pelo dramaturgo Aderbal Freire Filho
Bom, a tragédia é aquela famosa de Shakespeare; transcorre no castelo de Elsinore, na Dinamarca, onde podemos observar este príncipe e seus conflitos, angustias, ambigüidades; o surgimento da racionalidade e da loucura, da culpa, do ódio e dos sentimentos inconscientes que anteciparam em muito a psicologia freudiana estão todos lá, e, como já disse o critico literário Harold Bloom, em Shakespeare ocorre,
A montagem é excepcional, a coxia é aberta e trazida às laterais do cenário central , portanto os atores que não estão “em cena” ficam alí, à direita ou esquerda do palco, os vemos beber água, trocar de roupas. As máscaras são retiradas e o “mise em scéne” todo passa a incluir os bastidores e vemos alí o ator desnudado que ao projetar-se para a frente transmuta-se se em personagem. O humano transformado em demasiado humano....Percebemos , de repente, no canto um príncipe Hamlet que é
Os tênues limites entre a realidade e a ficção na revelação dos também tênues limites entre o que é o SER e o não SER deste príncipe que utiliza-se de um falso disfarce de louco para revelar a loucura dos outros; também aqui o “confusionismo” entre loucura e sanidade faz-se claro.E explorar seus limites livre de preconceitos é de uma grandiosidade.
Alguns atores têm excelente desempenho, Gillray Coutinho como Polônio, pai de Ofélia, revela um homem inquieto tomado por tiques nervosos e tem uma expressão corporal excelente o que auxilia ainda mais na composição deste personagem retórico e hilário. São alguns sutis momentos cômicos na obra de Shakespeare que manifestam-se.
Ofélia, vivida por Georgiana Góes esta na medida certa, a jovem virgem apaixonada pelo príncipe que enlouquece; vale atentar para seu vestido branco cheio de babados que na verdade são feitos de camisas. Sua atuação é sutil delicada e precisa na composição da frágil personagem .
Wagner Moura esta maravilhoso. Assustei-me com sua precisa empostação de voz, em que seu sotaque baiano perde-se e revela um trabalho de colocação de voz e expressão corporal bárbaros. O ator faz uma verdadeira maratona(ele deve perder uns bons kilos por encenação...), no decorrer da peça: pula, gesticula do alto à baixo de seus limites, sua atuação é 360 graus, revela, pois a grandeza deste homem barroco que ia da luz à escuridão, da racionalidade ao instinto, do céu à terra, desnudando, portanto todos os podres da Dinamarca, desde seus fétidos fedores na guerra do poder em que tudo é valido até as singelas delicadezas de um homem que busca a verdade e tantas outras coisas para além daquelas simples do que sonha nossa vã filosofia.
O figurino, de Marcelo Pies, é calcado
Embasbaquei-me. E o resto é silencio....
Abaixo o serviço da peça:
HAMLET
De William Shakespeare
Tradução de Aderbal Freire-Filho
Direção de Aderbal Freire-Filho
Cenário:
Iluminação: Maneco Quinderé
Figurinos: Marcelo Pies
Trilha Sonora: Rodrigo Amarante
Produção Executiva: Nil Caniné
Direção de Produção: Sérgio Martins
Realização: Sérgio Martins & Wagner Moura
Até 28 de setembro
Duração: 170 minutos (com intervalo de 15 minutos)
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