terça-feira, 8 de julho de 2008

Objeto transitório para uso humano






Fui hoje ver a relacional exposição da artista iugoslava Marina Abramovic. Sai de lá estarrecida e completamente deslocada. Mas creio que a boa arte faz isto: nos desloca e nos joga noutro universo: trata-se de uma mostra totalmente relacional em que somos obrigados a participar, vivenciar todas as obras ali vivas. Marina, nascida em Belgrado em1946, desenvolveu ao longo destes anos obras performáticas (muitas delas em parceria com seu namorado nos anos 80, Ulay; cúmplice em muitas de suas obras que articulam no limite do corpo); o casal troca numa destas tapas na cara um do outro , noutra "Expanding in space", o corpo pela sua expansão no espaço desloca e move paredes; noutra ainda, facas dançam em torno dos dedos de suas mãos-, um trabalho que articula nos limites tão tênues da vida e da morte, da arte e a aberração; em muitas delas a artista saiu carregada por médicos ou foi retirada por uma ambulância no limite da exaustão. Em 2002 numa Galeria em NY permaneceu 12 dias num período de 8 horas diárias, nua e sem comida ou água; defecando e vivendo 'normalmente' dentro desta. Outra vez, 16 horas imóvel amarrada pelo cabelo ao seu namorado . Marina dialoga no limite do corpo, na duração real da experiência, ela torna-se a sua própria obra e o devir de seu trabalho dá-se , realiza-se na vivência da própria artista no viver e exaurir-se neste. A matéria moldável de seus trabalho é seu próprio corpo, sem piedade nenhuma, sodomizado, cortado, batido, etc. O limite do quanto este suporta e dos níveis daquilo entre o fazer e não fazer nada; a mobilidade e imobilidade, o contemplar e o agir.Em todos os trabalhos presentes na mostra atual nós, o público interagimos com peças compostas de ferro,alumínio, imãs, luz neon, cobre oxidado, camomila, pedras brutas , tais como ametistas, quartzo rosa e lápis-lazúli. Materiais que armazenam e trocam energia. As obras nos despertam sensações sutis através de movimentos de energia; ativam chacras, nos estimulam por meio de cheiros e luzes- trata-se de uma mostra relacional e sinestésica, para todos os nossos sentidos .
Explorando os limites físicos e mentais de seu ser, Marina, ao longo de sua carreira, suportou a dor, a exaustão e o perigo, na busca da transformação emocional e espiritual, com performances, som, fotografia, vídeo, escultura. Seu trabalho figura em numerosas coleções públicas e privadas, além de contar com participações nas mais renomadas mostras de arte internacionais.

Temos de viver estas em 10 minutos, noutras vezes, por uma ou até 3 horas. Devemos interromper nossa vida cotidiana e nos dedicar a entrar no tempo do fruir de suas obras relacionais. Claro que hoje não pude interromper meu dia habitual de trabalho e passar o dia na galeria, mas pretendo fazer isto e mergulhar na vivencia de cada uma nalgumas idas à Galeria.
Vale lembrar que o que Marina nos pede não é fácil, e que esta tornou-se ao longo do tempo Budista. Difícil a gente conseguir se desvincular do nosso tempo e rotinas e nos despreendermos da vida corriqueira para entrar no tempo de sua obra. As peças são tão convidativas, algumas delas até mesmo lúdicas. A exposição está em cartaz até dia 2 de Agosto, aqui em São Paulo na Galeria Brito Cimino, na Vila Olímpia, maiores informações no link da galeria : http://www.britocimino.com.br/

Aqui algumas performances de Marina que podemos ver no Youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=pno1gCrbeVk

http://www.youtube.com/watch?v=PD41IRukna8

http://www.youtube.com/watch?v=h9-HVwEbdCo

http://www.youtube.com/watch?v=mUz5rnxQmfI&feature=related

http://www.youtube.com/watch?v=sjdLUmFwiFg&feature=related

Aproveitem a dica e lembrem-se "Art must be beautiful......"

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