segunda-feira, 30 de junho de 2008

Simples

A vida pode ser mais simples.
Tenho certeza disso.
Lembro-me de anos atrás ter lido um livro de Italo Calvino intitulado “Seis propostas para o próximo milênio”, foi em 1994, nossa há quanto tempo ! Um livro fenomenal em que Calvino expunha de forma clara estas seis: Leveza, Rapidez, Exatidão, Visibilidade Multiplicidade e Consistência. Era ainda o século XX e havia na mente de todos nós aquele mistério do que seria o século XXI. Iria mesmo acontecer o “Bug do Milênio”? Espaço-naves sobrevoariam nossas cabeças?
A cura de todos os males iria ser descoberta?
Mas nada disso parece ter se concretizado; as pessoas hoje estão mais doentes, mais sem tempo, querem tudo no mesmo momento do aqui e agora e não tem para si o bem mais precioso que, ao meu ver, é algo do qual Calvino esqueceu-se|: o
Tempo.
Não vivemos o tempo das coisas acontecerem, do simples, da natureza, do enamorar-se, da espera da carta do correio, do aguardo ansioso do retorno do recado deixado na secretária eletrônica, do virar o disco para o lado B na vítrola.
Parece saudosismo meu? Pode ser, afinal já virei a casa do trinta e saudades de uma época que já vivi hora vêm e vaí.
Concordo que devemos ser mais leves, a ausência de peso desnecessário é óbvia, devemos ser as vivências que acumulamos e não as coisas que temos. Outro dia ouvi uma expressão interessante que bem define o homem contemporâneo: somos Teres-Humanos......ufa, nossa que loucura! Cada vez mais, ao menos aqui em São Paulo, cidade em que o rítmo alucinatório de consumo das classes médias e altas define nosso status social - pelo aparelho de celular que temos, o note-book,
IPOD, o carro último modelo, a geladeira, enfim o dos bens materiais que nos dominam.
Temos que ser rápidos, ágeis e não podemos perder tempo, afinal nos dias de hoje tempo é dinheiro. Mas onde fica a saída matinal da volta com o cão e do jogar bola, o passear de carro sem destino definido, fazer o que
eu quiser na hora que bem entender? Não há este tempo do frugal, do boçal, do rídiculo e daquilo que não tem função e não serve à nada.....quero o ócio produtivo. Não há mai s o tempo para a 'perda de tempo'.Temos que ser precisos, acertivos, objetivos e almejar o sucesso, o dinheiro; até os 40 anos ter casa e carros próprios e, se possível uma familia ‘feliz’ bem constituída, com filhos , bábas, e todos os eletrodomésticos que o catálogo permitir. Mas o que é isso???? Tudo tem que estar ao nosso alcance, ser visível e passível de ser adquirido, comprado; também temos que ser seres que sabem de tudo um pouco e de nada em profundidade, a tal multiplicidade que se espera de “mauricinhos” competentes de bancos de investimento, a tão em voga interdisciplinariedade e, para tanto temos que ter consistência no alcance destes objetivos.

Aiiiiiiiiiiiiiiiiiii mas eu quero fugir de tudo issoooooooooo!! “Que meda!!!!"

Não sou um produto, quero a confusão, o relógio perdido no banco do carro, o confusionismo, a ambigüidade, viver livre de parâmetros que me digam como eu devo e tenho que ser feliz; quero dormir no banco da pracinha, soltar pipa, sair beijando e abraçando as pessoas na rua, dançar na chuva , rir de tudo e chorar por nada.

Cada vez mais percebo que me distancio destes preceitos do homem funcional que teoricamente é "o feliz" .Será que eu fali??

Não quero ser regida e domada pelo carro; adoro andar a pé e na minha scooter podendo estabelecer outro contato com as pessoas , vejo o céu, converso com motociclistas e crianças na rua, não tenho mais medo, andando com vidros enegrecidos enfurnada em meu mundinho do banco de couro e do ar condicionado. Aliás nunca tive este 'mundinho' e nem o almejo.

Quero a poluição na cara,e vez ou outra o cheiro do mato, os pingos de chuva batendo na cara e o vento raspando a face. Quero me sujar. Quero rir, ouvir ver e sentir.Principalmente quero ser dona do meu TEMPO.Moeda tão rara hoje em dia.

Vivê-lo, desvivê-lo, fazer o que quiser, e tal como Alice no Pais da Maravilhas, encolher e crescer de acordo com o tamanho que minha vontade quiser.

Agora começam as férias escolares e resolvi me dar férias civilizatórias: andarei na rua de pés descalços e nua.

Quero o simples e por ele lutarei!


Será que serei presa??

2 comentários:

x disse...

http://br.youtube.com/watch?v=3LdwGUXoXyA

x disse...

Se preferir andar espida, nua, vá.
Nào era intençào vestí-la.
Era intençào intuiçào ... que sim ... há um caminho, o coelho branco pode ajudar.

Quanto à poesia, qual poesia?

Saúdos!