segunda-feira, 2 de junho de 2008

"Obrigado por me usar"

Ouvi recentemente esta frase num filme, se não me engano, foi em “Viagem à Darjeeling”, de Wes Anderson. Mas outro dia da boca de um querido amigo ouvi: “Você é uma coisa ótima na vida!”. Tive a certeza que vivemos numa época com um novo paradigma: hoje, enquanto o espaço diminui a distância entre nós aumenta. O mundo é uma ‘aldeia global’, as cidades, tal como NY, são ‘melting pots’, amontoados de pessoas de diversas etnias do mundo inteiro jogadas na mesma panela. O tempo encolheu, conversamos e temos a experiência da simultaneidade ao mesmo tempo em que o esquimó no pólo norte.

Saber da distância é o único jeito de ser maior do que ela. A internet proporcionou um encurtamento das distâncias e do tempo, a lonjura não mais existe. Não ficamos mais esperando o devir da carta pelo correio. Tudo esta aqui agora, próximo. O tele-transporte do Dr. Spock ainda não se deu em termos de presença física, mas da experiência virtual sim. Estamos em todos os lugares e ao mesmo tempo em nenhum. Mas as pessoas relacionam-se e se pertencem cada vez menos: se conhecem em festas, se sugam, chupam, transam, se viram do avesso, vão embora e até nunca mais. As experiências são cada vez mais efêmeras e o comprometimento de um ser com o outro cada vez menor. As pessoas não conversam mais, não estabelecem afetos ou cumplicidade. A conversação cria cumplicidades. Será que devemos instituir a perda do habitar as relações? A aproximação deveria estar acima das distancias? Será ? Ou é mais fácil viver assim como nômades sentimentais? Devo admitir que como balzquiana sinto falta deste modelo de relacionamentos...se bem que este atual evita hipocrisias, falsidades, mentiras e as pessoas não mais precisam se tolerar e fingir a felicidade conjugal.....mas ao mesmo tempo o não comprometer-se com o outro torna tudo mais superficial e descartável e eu não gosto nem um pouco de me sentir uma peça usada. Como mote de vida, acho péssimo mesmo. Mas qual seria, então o bom modelo de vivência das relações pessoais?? Será que podemos instituir um hoje??

Ou estamos fadados a nos tornar robôs emocionais??

Um comentário:

x disse...

Náo posso deixar de sair de cá sem comentar, pois o seu escrito entrou-me mui dentro.

Concordo muito com estas ideias de proximidade e distância que nos envolvem. Este grande paradoxo rebole na minha cabeça ultimamente, desde que voltei a andar na net, depois de quatro anos ausente.

Tudo isto vem-me confirmar a teoria dos campos mórficos
http://www.ippb.org.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=3906

Cheguei aqui desde a Lu, desde o seu "gatocontraaparede".

Onde vamos?

Parabéns pelo blogue.