quarta-feira, 9 de abril de 2008

Cheiro do Ralo


Este também tem uma certa idade, escrevi ano passado ao assistir o filme "O Cheiro do Ralo". Não podia deixar este texto escoar ralo abaixo....

Hoje vou deixar minha poesia “pérfida” fluir, muito bem inspirada pelo filme “O Cheiro do Ralo”, ainda em cartaz no circuito paulistano.

BUNDA

RALO

OLHO

OLHO DA BUNDA.

OLHO DO CU

Muitas coisas me vieram à cabeça. George Bataille e sua "História do Olho", Augusto do Anjos e sua poesia escatológica.O olho é o que olha mas também é por onde saí tudo. Canal. Víscera. O ciclo se fecha, como no filme. Somos feitos de buracos, entradas e saídas. Constatamos que somos canos, canais por onde nossos líquidos passeiam. A música "Bichos escrotos saiam dos esgotos". Dá-lhe Titãs, dá-lhe David Cronenberg. A Mosca; ou tantos outros do mesmo. Greenaway, "O cozinheiro, a amante". Fedemos e devoramos a nós mesmos. Coisificamo-nos. A bunda é um objeto que ele compra a mulher, o homem como objetos antigos. Objetos empoeirados nas estantes. Peças vintage, apenas para nosso bel olhar. O Olho que a tudo vê tudo come tudo toca. E o homem: delicia-se e embeveda-se com o cheiro vil de seus próprios líquidos e fedores. Temos mesmo que ir de encontro as nossas profundezas e nos revirar para nos refazermos do amor, da vida, da vida dura, dolorida, caótica e escatológica. O dinheiro impera.

O toque falta.

O cheiro espalha-se.

Barata.

Kafka.

Falta ar.

O fedor corre nas veias. Morte. O cheiro que envenena.

Polui. Infla.

Jorra esporra. Canibais. Antropofagia.

Burlesco este filme. Mas como ele mesmo diz, a vida é dura.

BUNDA

Daniella Samad, 2007.

O Cheiro do Ralo, Brasil, 2006, 95 min. Direção de Heitor Dhalia.

www.ocheirodoralo.com.br

Nenhum comentário: