quarta-feira, 9 de abril de 2008

Tropa de Elite


Mais um texto meu de filme do ano passado:

Fui ver o filme tão alardeado "Tropa de Elite". Um soco no estômago, ou melhor, um soco na cara com direito a saco plástico...

Saí com os ouvidos retumbando ao som de disparos de fuzis, pistolas automáticas e granadas.

O cenário mais parecia o de uma guerra e não como é na realidade: favelas nos morros cariocas. Como uma personagem diz certa hora do filme “O BOPE tem treinamento de guerra, em nenhum país a polícia tem treinamento de guerra, apenas a polícia do Rio de Janeiro tem".

Mas para que e por quê?

O BOPE (Batalhão de operações Especiais da PM do RJ) possui alto nível de excelência, empregando recursos táticos inteligentes, trabalhando quietamente para não levantar alertas, sendo empregada em operações de alto risco em que a força da Polícia Militar regular não seria de efeito. Especializada em incursões, patrulhas e combate ao crime em favelas, faz uso constante de armamentos muitas vezes restritos às Forças Armadas Brasileiras,

Para enfrentar aqueles sujeitos que vivem na orla do chamado "Mainstream", os abastados, pobres, sem direito à moradia e esgoto. Sem direito à cidadania. Mas a conclusão a que cheguei é que o BOPE, a tropa de elite que deveria servir à população, manter a segurança, nos proteger, manter a ordem do Sistema (termo este muito usado no filme); tem hoje suas funções distorcidas, pois vive e existe para manter a ordem no morro dos traficantes que, na verdade traficam drogas ilícitas para uma clientela que vive na zona sul carioca com vista para a praia do Leblon, que assiste a mesma favela desfilar 'bunita' em seu televisor de plasma na novela das oito e acha tudo com muita "Catiguria".

Tudo faz parte de um grande Círculo Vicioso: a polícia que deveria servir ao pobre e ao rico põe panos quentes no traficante pobre que vive na favela e mantém o "baseadinho" e o "tapinha na branca" do rico. E nada pode parar esta estorinha. Mas a polícia não deve exterminar e sim manter a disciplina e a ordem de um sistema vigente. Mas, ao que parece o nosso sistema aqui no Brasil esta falido, se autodestruiu.

Mas para tanto crianças, adultos, mulheres, pobres e ricos são mortos diariamente numa guerra civil.

"Não se faz passeata pela morte de um policial, apenas pela de um burguês rico morto”; outra frase memorável do filme.

Aqui no Brasil vivemos assim, sempre que ocorre um acidente aéreo ou filhos das chamadas classes A e B são mortos em assaltos ou acidentes ocorrem manifestações onde deveria haver uma verdadeira vontade política de cobrança de ética e atitudes governamentais. Mas nós não cobramos e não nos mexemos. Ficamos inertes. Passeatas não resolvem. Paternalismos e pena das 'criancinhas pobres' nos faróis e nas favelas em atitudes que redimam nossa culpa e apenas isto também não. Se a filantropia resolvesse algo o Brasil não estaria do jeito que esta. “Irmos para o céu" não tem nada a ver com resolver nossa situação no aqui e agora.

O filme acaba e percebemos que não sabemos por quem ‘torcer’ Quem é o herói do filme? A polícia corrupta, a justa, o burguês que consome, o traficante que sobrevive?

Quem é o bem, quem é o mal?

"O BOPE veste preto...", como diz o coronel Nascimento “... porque mata e enterra pessoas quando sobe nos morros"

Seriam eles os novos guerreiros medievais que conversam com a morte numa nova versão bergniana de "O sétimo Selo"? O jogo de xadrez é agora real, nas nossas ruas, na nossa cara, nas nossas cidades

O BOPE talvez seja o novo soldado mercenário. E o ser humano do século XXI seu alvo.

Para que serve a polícia hoje?

O que é a cidadania hoje?

Qual o valor da vida hoje?

A única conclusão a que cheguei é que se faz inevitável a seguinte discussão: não é mais que a hora de pensarmos na descriminalização das drogas? Não seria esta a única maneira de interromper com este ciclo infindável? O governo ganharia com a taxação de impostos, o tráfico acabaria.

Na verdade a hipocrisia acabaria. Pois alguém pode me dizer por que todo mundo pode ficar bêbado e isto é visto como uma atitude 'normal' mas ninguém pode fumar “um baseadinho"? A palhaçada do papo "esta ou aquela droga faz mais ou menos mal" acabaria e tudo ficaria num mesmo patamar...

O cenário é este.

E neste momento percebemos que somos personagens do filme também e fazemos parte desta engrenagem que faz este ciclo girara e girar infinitamente.

Somos personagens impotentes que até o presente momento nada fizeram para fazer esta geringonça parar de girar. Fazer este filme parar de ser a realidade e tornar-se apenas uma ficção. Devemos parar. Cortar. Editar e remontar esta realidade.

Vejo nós todos tal como o Aspirante Mathias em cena do filme:

com a granada na mão prestes a explodir e sem poder se mexer.

Enquanto escrevo este artigo com certeza centenas de tiros de fuzis rasparam por muitas cabeças

Vejam o filme

Precisamos de uma Estratégia

Urgentemente.

Silêncio

DANIELLA SAMAD

11/10/2007

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